Título: Copa ajuda e atrapalha a produção
Autor: Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 30/06/2006, Brasil, p. A4

No bimestre maio-junho, a Copa do mundo ajudou alguns setores e afetou negativamente a produção de outros. A indústria de alimentos e a de vestuário creditam ao evento esportivo parte do bom desempenho do período. Outros setores dizem que a produção - especialmente de junho - foi prejudicada pelos "feriados" informais nos dias de jogo do Brasil.

A Cativa, indústria catarinense de vestuário, considerou os meses de maio e junho como bons. A empresa, responsável pela comercialização das marcas Fido Dido e OP, produziu e vendeu 10% a mais em maio na comparação com o mesmo período do ano anterior, e 15% a mais em junho. De acordo com Gilmar Sprung, presidente da empresa, a coleção de verão, que foi comercializada já em maio e junho, teve boa aceitação porque o lojista começou a vender a coleção de inverno e teve dinheiro em caixa para novas compras. "O clima foi favorável e o lojista está capitalizado para novas encomendas", diz. A Copa do Mundo também foi no geral boa para os negócios da empresa, que comercializou artigos com o Brasil como tema.

A fabricante de tecidos planos Têxtil Renaux, com sede em Brusque (SC), viu queda das encomendas do varejo principalmente no mês de junho. No mês, a Renaux teve retração de 10% nas encomendas e reduziu a produção quase no mesmo patamar. O presidente da Renaux, Armando Hess, explica que o esforço que a empresa vem fazendo para vender mais não está resultando em aumento da produção principalmente pela concorrência com tecidos chineses e indianos, e também por reflexos da Copa do mundo.

Como a indústria não atua com malharia, tipo de confecção mais usada nos artigos da Copa, não houve forte demanda por seus produtos. E ainda sofreu com queda nos pedidos, em especial, nos dias em que a seleção brasileira entrou em campo. "Quando o Brasil jogou mais no meio da semana (como terça-feira), notamos uma queda mais acentuada de pedidos, superior a 10% na semana", diz.

O presidente do Sindicato das Indústrias Têxteis do Vale do Itajaí (Sintex) e diretor da Hering, Ulrich Kuhn, disse que para o setor como um todo maio foi melhor do que junho no mercado interno. As encomendas aumentaram por conta do frio, explicou. "O setor continua andando de lado", disse. Mas há alguma melhora na produção. Em 2005, as férias coletivas de julho chegaram a ser antecipadas para junho por algumas empresas, o que quase não ocorreu neste ano.

A produção da indústria de alimentos deve fechar junho no positivo, impulsionada pelo aumento do salário mínimo, a chegada do inverno, as festividades de São João e a Copa do Mundo, espera Dênis Ribeiro, diretor econômico da Abia, associação que representa o setor. Ele avalia que junho será levemente melhor do que maio. No mês passado, a indústria cresceu 7% sobre abril, um resultado muito positivo. No acumulado do ano, o crescimento do setor chega a 3%.

Segundo o diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, o setor sente a desaceleração nas exportações por causa do efeito do câmbio (de janeiro a abril a baixa foi de 8%). No mercado interno, as vendas mantêm leve alta pela recuperação da capacidade de consumo da população.