Título: Aço terá novo aumento em janeiro
Autor: Francisco Góes e Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 09/12/2004, Empresas, p. B-1

A siderurgia brasileira começará 2005 com preços do aço em alta, repetindo o cenário que garantiu ótimos resultados às empresas do setor em 2004. Já em janeiro, a Usiminas irá aumentar em 15% os preços das chapas grossas, cuja demanda está sendo puxada pela indústria naval na Ásia. As vendas de placas da Cia. Siderúrgica de Tubarão (CST) também indicam aumentos no primeiro trimestre do ano comparado as preços atuais. A perspectiva de mais um ano bom para o setor é confirmada pela previsão de que, pela primeira vez na história, o consumo aparente de aço no país, que inclui vendas internas mais importações, deverá superar 20 milhões de toneladas, com crescimento de 9,8% sobre 2004. A demanda deverá ser puxada pela construção civil e pelos bens de capital, incluindo sub-setores como indústrias ferroviária e naval, além de segmentos que são clientes tradicionais, caso do automotivo. "Será um ano com boas perspectivas de receita e um ano de sustentação para uma indústria com grandes projetos de investimento", avaliou José Armando de Figueiredo Campos, presidente do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS). A entidade reuniu ontem, no Rio, seu conselho diretor para avaliar 2004 e apresentar os cenários para 2005. A previsão do IBS é de que a produção de aço bruto alcance 33,6 milhões de toneladas em 2005, com crescimento de 2,1% sobre 2004. Neste ano o setor deverá produzir 32,9 milhões de toneladas. O acréscimo de quase 700 mil toneladas, considerado pequeno, será garantido por expansões já feitas, como a Belgo Mineira, cuja usina de Piracicaba (SP) terá plena capacidade em 2005. A expansão, travada pela capacidade no limite (menos de 35 milhões de toneladas), será, portanto, bem menor que a deste ano. Apesar do consenso no setor de que os preços do aço devem continuar elevados, diminuiu a pressão por reajustes adicionais, avaliou Jorge Gerdau Johannpeter, presidente do grupo Gerdau. "Mas continuará aquecido", previu o empresário. O presidente da Cosipa, Omar Silva Junior, acrescentou que até março de 2005 a placa deverá manter preço entre US$ 520 e US$ 540 a tonelada. É um preço de referência, no mercado "spot". As estimativas do IBS indicam ainda vendas para o mercado interno de 19,6 milhões de toneladas em 2005 com alta de 9,5% sobre 2004 quando o setor deverá fechar com o total de 17,9 milhões de toneladas. As vendas domésticas de aços longos devem crescer 13,9% , refletindo a retomada da construção civil. As de aços planos vão subir 8,3%. O aumento das vendas internas será compensado com a redução de exportações, indicou Campos. A projeção é de 11,6 milhões de toneladas, com queda de 3,4% sobre as 12 milhões a serem embarcadas este ano. A receita prevista com as exportação, porém, deve ficar em US$ 4,9 bilhões em 2005, valor US$ 100 milhões menor que em 2004 (US$ 5 bilhões). A estimativa confirma que os preços do aço devem continuar firmes, situação condicionada, em grande parte, à alta das matérias-primas como carvão, minério de ferro, coque e ferro-ligas. Outro item em alta são os fretes marítimos, que voltaram a subir depois de um período de trégua. Os contratos de compra de carvão apontam para aumentos de 100%, concordam os executivos. O insumo deve sair do patamar atual de US$ 60 a tonelada para a faixa de US$ 120 em 2005. Ferro-ligas, subirá em percentual semelhante. O presidente da Acesita, Luiz Aníbal de Lima Fernandes, reconheceu que a pressão de custos irá se manter em 2005. Ele lembrou que a Cia. Vale do Rio Doce já sinaliza com aumentos no preço do minério de ferro. E citou que as ligas de níquel, que chegaram a até US$ 17 mil a tonelada em janeiro de 2004, deverão permanecer no patamar de US$ 14 mil. Os preços do frete entre Vitória e o Extremo Oriente situam-se entre US$ 80 e US$ 90 por tonelada, acrescentou Fernandes. Rinaldo Campos Soares, presidente da Usiminas, disse que o aço tem de se ajustar à realidade do mercado, considerando o alto custo dos insumos, como coque, que na sua previsão deverá subir 100%. Por conta disso, sua empresa aumentou na média os preços do aço no mercado doméstico em 41% em 2004 sobre a média de 2003. Soares reconheceu que a China continua sendo a locomotiva do crescimento na siderurgia mundial. Segundo Campos, presidente do IBS e também da CST, a China representa hoje cerca de um terço do consumo aparente de aço mundo. Em 2004, sua produção na China deve crescer 22%, comparada ao mundo, 8,9%. Ele informou ainda que o IBS está revendo o plano de investimentos do setor para o período 2004-2008, de US$ 7,4 bilhões, para elevar a capacidade no país de 34 milhões para 44 milhões de toneladas. O plano contempla só expansões de unidades existentes. Os novos projetos em discussão, previu, poderão acrescentar mais 10 milhões de toneladas.