Título: PF investiga manipulação com ações da Mundial
Autor: Bueno,Sérgio Ruck
Fonte: Valor Econômico, 16/09/2011, Investimentos, p. D2
A Polícia Federal (PF) fez na quarta-feira buscas em três escritórios de agentes autônomos de investimento e na casa de um desses profissionais em Porto Alegre (RS) para apurar indícios de manipulação das ações da fabricante de alicates e tesouras Mundial. A ação, batizada de "Operação Insider", recolheu discos rígidos de computadores, notebooks e documentos nas empresas e na residência do agente autônomo.
Segundo a delegada Aletéa Kunde, chefe do grupo de repressão a crimes financeiros e lavagem de dinheiro da Polícia Federal do Rio Grande do Sul, foram cumpridos quatro mandados de busca e apreensão. Sem citar nomes de pessoas nem de empresas, ela disse que o principal suspeito estava em um dos três escritórios de agentes autônomos visitados pelos policiais e, depois, acompanhou a busca realizada na residência dele.
O Valor apurou que as empresas investigadas foram a TBCS Investimentos, a Quantix e a Sun, Invest, todas empresas com alguma ligação com o agente autônomo Rafael Ferri. Ele foi citado em uma carta anônima que denunciava uma possível manipulação das ações da mundial. A carta circulou no mercado pouco antes de os preços dos papéis despencarem mais de 80% em uma semana, no fim de julho, o que pulverizou praticamente quase todo o ganho obtido desde maio, de até 2.800% com a ação ordinária (ON, com voto) e de 1.652% com o papel preferencial (PN, sem voto). A empresa chegou a negociar volumes maiores que os da gigante Petrobras e foi cotada para entrar no índice referencial do mercado, o Ibovespa.
Ferri, que também é acionista da Mundial, foi sócio da TBCS até janeiro deste ano, até abrir a Quantix, que fica no mesmo endereço e na mesma sala da Sun. A Sun seria de ex-sócios de Ferri na TBCS, assim como a gestora de recursos Manhattan Capital.
Em julho, Ferri confirmou ao Valor que negociou ações da Mundial para os clientes, mas negou ter usado informações privilegiadas e alegou que não vendeu a posição na empresa, mesmo depois da forte queda. Ele não foi localizado pelo Valor para comentar a ação da PF.
Conforme a delegada, o objetivo agora é verificar se de fato houve manipulação com as ações da empresa relacionada ao caso. Ela não comentou se teria havido algum tipo de conivência da companhia.
De acordo com nota divulgada pela PF ontem, o objetivo da operação foi "reprimir investidores suspeitos de terem manipulado os resultados do mercado de ações". A superintendência da instituição em São Paulo iniciou a investigação dia 2 de agosto junto com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), mas, segundo Aletéa, como havia outra apuração em andamento no Rio Grande do Sul, a Justiça Federal paulista declinou da competência do caso em favor da Justiça Federal gaúcha, que determinou a realização das buscas.
Na nota, a PF informou que a investigação apura "oscilação aparentemente sem razão do valor de mercado nas ações de determinada empresa". Depois, "pela fragilidade do esquema e em virtude de boatos que circulavam no mercado, as ações da empresa iniciaram queda abrupta, gerando um prejuízo milionário a inúmeros investidores", acrescentou a Polícia Federal.
O diretor da TBCS, Paulo Borba Moglia, confirmou que os agentes da PF foram até a sede do escritório, mas disse que ele não recolheram qualquer material porque Ferri já não opera na empresa desde janeiro. Para Borba, as investigações conduzidas pela PF são "positivas" porque vão demonstrar que a empresa não cometeu irregularidades.
Segundo Moglia, Ferri deixou o escritório justamente porque os demais sócios não concordaram com a estratégia de excessiva concentração das operações com as ações da Mundial.
O diretor da Manhattan Capital, Rodrigo de Carvalho Leite, confirmou que a Polícia Federal esteve na quarta-feira nos escritórios da Quantix e Sun, que ficam no mesmo prédio, em um bairro nobre de Porto Alegre. Na Quantix, os policiais teriam recolhido o disco rígido do computador de Ferri. Conforme Leite, a PF não esteve na Manhattan e que Ferri estaria ontem em São Paulo.
O delegado da PF que coordenará a investigação no Rio Grande do Sul, Sérgio Busato, informou que ainda não tomou conhecimento do teor integral do inquérito recebido pela Justiça Federal no Estado. Ele pretende reunir-se com a CVM para aprofundar a apuração e admite que poderá ouvir representantes das corretoras com as quais os escritórios autônomos operavam ou da própria empresa caso surjam indícios de participação delas nas eventuais irregularidades.
Em comunicado ao mercado enviado ontem à CVM, o diretor-superintendente e de relações com investidores da Mundial, Michael Ceitlin, disse que a empresa é "uma das partes prejudicadas nesse processo" (a suspeita de manipulação das ações) e considera "positiva" as investigações da PF e da CVM. Segundo a nota, a companhia está "à disposição" para contribuir com a apuração do caso. (Colaborou Angelo Pavini)