Título: Lula promete ao PCdoB buscar mandato de 5 anos sem reeleição
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 30/06/2006, Política, p. A7
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva definiu ontem a reforma política como a prioridade entre os assuntos do Congresso Nacional no seu segundo mandato. Pretende, também, incluir neste debate a proposta de um mandato presidencial de cinco anos sem reeleição. A revelação foi feita ontem pelo próprio Lula ao presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, com quem se encontrou no Palácio da Alvorada. Na reunião, Rabelo informou ao presidente que o PCdoB formalizará a aliança com o PT nas eleições de outubro.
"A posição do presidente Lula é contrária à reeleição. Ele tem falado isso e falou hoje (ontem) de novo. O presidente defende o ponto de vista que deve haver um mandato de cinco anos e sem o direito de reeleição", revelou Rabelo, em entrevista concedida na Câmara, onde o PCdoB realizou a convenção nacional do partido durante todo o dia de ontem. "Lula afirmou que a primeira medida, a mais importante do governo, ao ser reeleito, será a reforma política", disse Rabelo.
A convenção do partido foi pouco prestigiada pelo governo. O presidente Lula e o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, eram esperados e não apareceram. Nenhum dirigente petista compareceu.
No encontro com Lula, os dirigentes do PCdoB entregaram uma carta. Aldo Rebelo, presidente da Câmara, fazia parte do grupo. No documento, os comunistas pedem mudanças na política econômica. "Defendemos um redirecionamento da política macroeconômica. Para termos um desenvolvimento mais forte, é necessário que as taxas de juros sejam menores e que haja uma maior interferência na taxa de câmbio", pediu Renato Rabelo. Ele crê na necessidade, pelo menos, de um debate mais amplo em um possível segundo mandato de Lula. "O governo deve enfrentar esses problemas. A economia do país não pode ficar rígida e fixa o tempo todo." Além das questões econômicas, o PCdoB também pede reforço na política externa e na aplicação das políticas sociais.
Lula convidou o PCdoB para integrar a coordenação da campanha e ajudar nas comissões a serem montadas para elaborar o programa de governo. "O presidente também nos convidou para segui-lo na caravana que fará pelo país durante a campanha", disse Rabelo. Já se esperava uma aliança formal entre os dois partidos. Será a quinta eleição na qual o PCdoB apoiará Lula na corrida presidencial. Em 15 estados, haverá coligações formais para as disputas de governos. Em outros dez, PT e PCdoB apoiarão os mesmos candidatos. "Apoiamos PSB e PMDB em alguns lugares", afirmou. O PCdoB será o maior partido a apoiar Lula. As demais legendas da base, como PSB, PL, PTB e PMDB decidiram não apoiar nenhum candidato formalmente.
O isolamento levará Lula a ter menos tempo de televisão que o candidato do PSDB a presidente, Geraldo Alckmin. Rabelo não vê problemas nisso. "Um ou dois minutos não é muito. É importante lembrar que muito tempo nem sempre é bom".
As divergências se restringem ao Distrito Federal e ao Tocantins. Em Brasília, o ex-ministro do Esporte Agnelo Queiroz sofre resistência do PT, que pretende indicar a deputada distrital Arlete Sampaio ao governo. Em Tocantins, o senador Leomar Quintanilha é o candidato comunista. O PT, sem candidato, prefere se alinhar ao governador Marcelo Miranda (PMDB), candidato à reeleição.
O presidente da Câmara, Aldo Rebelo, comemorou a formalização da aliança. "O PCdoB oficializou o apoio à candidatura do presidente Lula para dar continuidade às mudanças políticas, econômicas, sociais e culturais de que o Brasil necessita". (Colaborou Paulo de Tarso Lyra)