Título: Lembo estende tapete vermelho para Lula
Autor: Caio Junqueira
Fonte: Valor Econômico, 30/06/2006, Política, p. A8

Foi preciso que o PFL assumisse o comando do governo paulista para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva retornasse ao Palácio dos Bandeirantes, sede de governo de São Paulo ocupada pelos tucanos entre 1995 e 2006. Do início ao fim, o evento - oficialmente uma cerimônia para a a assinatura de convênios entre a União e dezoito municípios paulistas - foi marcado pela troca de afagos entre Lula e o governador Cláudio Lembo.

Ambos subiram as escadarias do Palácio aos abraços para cinegrafistas e fotógrafos, com direito a uma parada estratégica para aperto de mãos sob os flashes. Diferentemente dos 11 sob a égide tucana, o salão da cerimônia estava repleto de autoridades petistas: os senadores Eduardo Suplicy e Aloizio Mercadante - candidato à sucessão paulista -, e os deputados federais João Paulo Cunha, Telma de Souza, Luiz Eduardo Greenhalgh e Mariângela Duarte. Do PFL, o prefeito Gilberto Kassab e o presidente da Assembléia, Rodrigo Garcia. Diferente também era condição do retorno de Lula ao Palácio. Nas duas últimas vezes, o então líder maior petista esteve presente ao velório de Mário Covas, em 2001, e para discutir o seqüestro de Celso Daniel, em 2002.

Iniciados os discursos, vieram as menções mútuas ao simbolismo e à importância histórica do encontro amigável entre situação e oposição na casa do adversário. Lembo falou primeiro. Começou o discurso mas a caixa de som falhou. O governador alertou sob eventuais maus-olhados de quem pode desaprovar o evento: "Presidente, isso deve ser alguma coisa contra nós dois". E começou a falar sobre o grande dia. "Fico feliz em ser o primeiro governador de São Paulo nos últimos anos a receber o presidente no Palácio. Hoje esse dia tem um simbolismo todo especial. Guardem o dia de hoje. Somos pessoas com visões de mundo diferentes mas que acreditam na sociedade brasileira. Podem estar certos: hoje é um momento muito importante da história brasileira. Muito obrigado presidente por estar aqui na sede dos paulistas." Bem menos empolgado com a presença presidencial, Kassab tomou a palavra em seguida para reconhecer a importância que o governo federal dá ao saneamento básico e falar sobre a importância das parcerias entre os governos federal, estadual e municipal.

E veio Lula. No mesmo tom de Lembo, afirmou considerar muito importante a data, ressaltando que ele e o governador paulista são a prova de que pode haver amizade entre pessoas diferentes. E o convidou para uma visita em Brasília, ainda que não haja convênios para assinar. "Seria muito ruim se terminasse o mandato e eu não pudesse fazer uma visita aqui no Palácio dos Bandeirantes. Da mesma forma que será muito ruim que você não vá a Brasília para que a gente possa discutir nada mesmo. Não precisa ter nenhum grande convênio, apenas para passar à sociedade a idéia de que tem seres de berços diferentes, de formação diferente e concepções ideológicas diferentes, que podem ser amigos, podem conviver democraticamente, na adversidade."

Na primeira semana na condição de presidente-candidato, Lula voltou a criticar as limitações da legislação eleitoral, que o impede de liberar recursos para as prefeituras. "No Brasil, tem um problema. Tem as eleições, que fica proibido de fazer convênios a partir de amanhã. Depois, só após o processo eleitoral."

Também fez uma crítica à vedação que a Lei de Responsabilidade Fiscal faz aos municípios com alto grau de endividamento, que são impossibilitados de receber financiamento. "Temos um problema, porque temos dinheiro disponibilizado na Caixa Econômica Federal, temos dinheiro para emprestar no BNDES. E qual é o problema? É que no Brasil as prefeituras estão todas proibidas de ter financiamento porque todas estão endividadas. Então fica a pior situação do mundo. Você sabe que a cidade precisa, tem dinheiro disponibilizado para financiar e não pode porque tem um monte de embaralhamento jurídico que não permite que o empréstimo entre. Nós precisamos resolver isso."

Questionado depois se era contra a LRF, negou. "O que precisamos é encontrar um jeito de voltar a financiar as prefeituras com maior volume, porque a grande maioria delas está endividada e portanto não adianta ter dinheiro para saneamento se elas não podem utilizar. Temos que ver isso. Mas isso não será visto com pressa não. Todas as prefeituras precisam de saneamento básico. O que precisamos é criar um outro mecanismo para que a gente possa fazer os investimentos em saneamento básico. Apenas isso."

O presidente em seguida foi à Faculdade de Medicina da USP. Esteve ainda no Incor, onde visitou o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), que se recupera de um acidente de carro.