Título: Argentina comemora exportação recorde
Autor: Paulo Braga
Fonte: Valor Econômico, 30/06/2006, Internacional, p. A10

O governo argentino comemorou ontem a quebra do recorde mensal de exportações e a redução do desemprego, que pela primeira vez em 13 anos ficaria abaixo de 10%. Os dados foram divulgados pelo próprio presidente Néstor Kirchner. "Com este superávit [comercial] e o fiscal, estamos ganhando independência para a pátria", disse Kirchner durante cerimônia com o presidente boliviano, Evo Morales, em que assinaram acordo que eleva o preço que a Argentina paga pelo gás boliviano.

Apesar do tom do presidente, analistas dizem que a expansão das exportações era esperada devido a fatores sazonais. Além disso, a expansão das vendas externas argentinas vem sendo menor do que nos demais países da região.

Em maio, a Argentina exportou US$ 4,125 bilhões, um recorde histórico, com alta de 13% em relação ao mesmo mês de 2005. As importações cresceram 14% e chegaram a US$ 1,33 bilhões. A expectativa do governo é encerrar o ano com exportações totais da ordem de US$ 44 bilhões, um aumento de 10% em relação ao ano passado.

"O aumento deve se manter, mas não é possível dizer que a Argentina esteja tendo um desempenho espetacular", disse Mauricio Claveri, economista da consultoria Abeceb.com. Ele chamou a performance como "medíocre" em relação a outros países da região, até pelo fato de o câmbio ser mantido desvalorizado com intervenções do BC. "A taxa média de crescimento das exportações em outros países latino-americanos é de 20%."

Claveri disse que o salto nas exportações ocorreu em parte pela venda da colheita de soja, que incide fortemente sobre os números da balança comercial entre abril e julho. Mas, como aspecto positivo, ressaltou que a Argentina está conseguindo ampliar a participação de produtos manufaturados em suas exportações, que cresceram 17% no período janeiro-maio.

No que diz respeito aos dados de desemprego, a avaliação é que a taxa vem evoluindo de maneira importante, mas mesmo com uma taxa similar a 1994, cresceu a informalidade, aumentou a pobreza e piorou a distribuição da renda.

Kirchner afirmou que "em maio, o desemprego chegou a 9,8%", ressaltando que o dado é provisório, mas enfatizando que, quando ele assumiu, em maio de 2003, o desemprego estava em quase 20%.

Os dados de desemprego são divulgados trimestralmente na Argentina. O último dado, do primeiro trimestre, ficou em 11,4%. A divulgação dos dados do segundo trimestre deve ocorrer em agosto.

A baixa a um dígito é provável, levando-se em conta que a metodologia considera como empregados os beneficiários de uma ajuda a chefes de família desempregados. "A Argentina está diante da possibilidade de fechar o ciclo" de desemprego alto, disse o sociólogo Ernesto Kritz, especialista em mercado de trabalho. Ele afirma, porém, que o principal é deter o avanço do trabalho informal, onde está cerca de 50% da força de trabalho.