Título: México vai às urnas em busca do fim da paralisia política no país
Autor: Ricardo Balthazar
Fonte: Valor Econômico, 30/06/2006, Internacional, p. A11

O mexicanos vão às urnas neste domingo indecisos sobre o seu futuro e preocupados com os entraves que o sistema político nacional poderá criar para a realização das enormes esperanças alimentadas pela acirrada campanha eleitoral dos últimos meses, a mais disputada na história recente do México.

Os dois candidatos que lideram as pesquisas chegam à reta final empatados, cada um com pouco mais de um terço do eleitorado. A maioria das sondagens dá como favorito o esquerdista Andrés Manuel López Obrador, do Partido da Revolução Democrática (PRD), mas lhe confere apenas alguns pontos de vantagem sobre o conservador Felipe Calderón, do Partido Ação Nacional (PAN).

Eles representam visões bem distintas dos problemas mexicanos e do melhor modo de solucioná-los. López Obrador, que os críticos vêem como um populista messiânico e imprevisível, é um líder popular de grande carisma que acredita na capacidade do Estado de dar novo impulso à economia mexicana, que vem crescendo a taxas modestas como as brasileiras.

Calderón, um tecnocrata formado em Harvard e apoiado pelo atual presidente, Vicente Fox, defende a realização de reformas que tornem o ambiente empresarial mexicano mais competitivo, atraindo investimentos de empresas estrangeiras e diversificando uma economia excessivamente dependente das flutuações do preço do petróleo e da atividade econômica do vizinho rico, os EUA.

Obrador, que foi prefeito da Cidade do México, promete benefícios sociais generosos para os mais pobres e um audacioso programa na área de infra-estrutura, que prevê a construção de três refinarias, aeroportos, portos, estradas, ferrovias e um trem-bala até a fronteira com os EUA, sem esclarecer como obterá recursos para pagar a fatura.

Calderón, por sua vez, promete promover reformas ambiciosas, sem dizer como enfrentará os interesses contrários que estão entrincheirados no Congresso. Ele quer mudar os impostos, mexer nas aposentadorias dos funcionários públicos e abrir a indústria do petróleo para investidores estrangeiros, idéia que é um tabu no México há décadas.

Se as projeções das pesquisas eleitorais se confirmarem no domingo, a correlação de forças entre os principais partidos políticos no Congresso ficará ainda mais equilibrada do que é hoje, o que ampliará as dificuldades que o futuro presidente terá para formar maiorias parlamentares e fazer avançar suas propostas, seja ele López Obrador ou Calderón.

É o mesmo problema que nos últimos anos frustrou grande parte da expectativa gerada com o triunfo de Fox em 2000. Ele se elegeu com o apoio de 43% do eleitorado e pôs fim a sete décadas de domínio absoluto da política mexicana pelo Partido Revolucionário Institucional (PRI), mas a velha guarda manteve o controle sobre dois quintos do Congresso, o suficiente para bloquear os projetos do governo.

O PRI perdeu muito de sua força nos últimos anos, mas seu candidato presidencial, Roberto Madrazo, pode recolher um quarto dos votos no domingo, de acordo com as pesquisas. Se esse resultado se refletir na composição do novo Congresso, como é provável, chamar o chefão do PRI para uma conversa será uma das primeiras tarefas do próximo presidente.

Nos últimos dias da campanha, López Obrador e Calderón fizeram movimentos sutis para aparar arestas e abrir caminho para uma aproximação no futuro. Calderón, cuja campanha passou boa parte do tempo comparando o adversário com o líder venezuelano, Hugo Chávez, para assustar os eleitores mexicanos, encerrou o último comício saudando os concorrentes e prometendo " convocar a união nacional " se vencer a disputa.

Obrador fez acenos na direção dos empresários. A principal associação empresarial do México fez campanha aberta contra ele, reagindo aos ataques freqüentes do candidato contra " os de cima " , os " saqueadores " e os " traficantes de influência " . No último comício, Obrador pôs a bola no chão novamente. " Não vamos provocar nenhuma crise e ninguém deve se preocupar " , disse. " Vamos atuar com responsabilidade e sensatez. "

A eleição é em turno único. O resultado deve sair na noite de domingo para segunda.