Título: Saúde ABC compra a carteira de clientes e hospitais da Interclínicas
Autor: Carolina Mandl
Fonte: Valor Econômico, 09/12/2004, Empresas, p. B-2

A carteira de clientes da Interclínicas foi vendida para a Saúde ABC. Por causa da deterioração da situação econômica da Interclínicas, no dia 29 de novembro, a Agência Nacional de Saúde (ANS) determinou que a venda de seus 166 mil associados em 15 dias. Caso contrário, sua carteira seria leiloada pela própria ANS. Os valores da transação não foram revelados e incluem, além dos clientes, o hospital Evaldo Foz e os 12 centros médicos da Interclínicas. Para que a venda se concretizasse, as únicas exigências da ANS foram que a Saúde ABC mantivesse a mesma cobertura e preço, além de não impor carência dos clientes, que serão atendidos por uma empresa chamada Saúde São Paulo, no lugar de Interclínicas. Hoje a Saúde ABC, fundada em 1995, atende 170 mil vidas. A operadora já passou por duas fiscalizações da ANS. A primeira ocorreu de 14/02/2001 a 03/06/2002, quando a Saúde ABC passou por uma intervenção fiscal, por causa do quadro econômico que apresentava. Já no ano passado, anormalidades no atendimento levaram a uma direção técnica, que só foi levantada em abril deste ano. De acordo com Alfredo de Almeida Cardoso, diretor de normas e habilitação de operadoras, a ANS agora irá observar as contas da Saúde ABC. "Vamos fazer um acompanhamento cuidadoso para que possa haver o mínimo de problemas aos usuários", afirma. Desde 2001, a operadora não apresenta lucro líquido. No ano passado, seu prejuízo foi de R$ 1,9 milhão. As dívidas com vencimento em até um ano eram de R$ 49,8 milhões em 2003, quase o dobro do que a operadora tinha disponível em seu ativo circulante. Mesmo com sua carteira vendida, a Interclínicas permanecerá sob intervenção. Segundo Cardoso, da ANS, se a companhia conseguir voltar ao equilíbrio financeiro, ela poderá voltar a operar com novos clientes. Doze operadoras já passaram por direção fiscal e voltaram à normalidade. De acordo com Cardoso, em agosto, a ANS chamou a Interclínicas para que ela apresentasse algum plano de recuperação. As saídas apresentadas foram duas. A primeira consistia em passar a administração da carteira para a International Health Holding (IHH), controladora da Gama, que faria um aporte para liquidar parte das dívidas de curto prazo da Interclínicas. Segundo o Valor apurou, esse aporte seria de cerca de R$ 40 milhões, o que deixaria a operadora em uma situação mais tranqüila. Com isso, a IHH seria remunerada para administrar as vidas da Interclínicas. Porém a situação da companhia foi se deteriorando, e a IHH optou por não mais aportar recursos. Ela corria o risco de injetar dinheiro na Interclínicas e mesmo assim a venda ser determinada pela ANS. A outra proposta da Interclínicas era securitizar seus recebíveis, garantindo o recebimento de seus credores. O projeto foi rejeitado pela ANS, já que traria resultados de longo prazo e o modelo não havia sido testado pela ANS. Desde que foi colocada à venda, três empresas mostraram interesse em comprar a Interclínicas: Amil, Intermédica e a própria Gama. O Valor apurou que algumas não se sentiram confortáveis com as poucas informações oferecidas pela Interclínicas e optaram por nem enviar propostas com preço.