Título: Lei é um "divisor de águas", dizem dirigentes
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 05/05/2006, Brasil, p. A2

O projeto da Lei de Incentivo ao Esporte apresentado ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva é, na opinião dos dirigentes, um "divisor de água" na história esportiva do país. O presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos, Coaracy Nunes Filho, disse que a lei acaba com uma "absoluta injustiça" com o esporte. "Antes tínhamos apenas uma lei de apoio à cultura (Lei Rouanet). Faltava uma que apoiasse o esporte, que é o assunto mais lido e comentado em todo o mundo, além de de ser notável como fator de inclusão social, promoção de cidadania e instrumento de marketing."

Para a presidente da Confederação Brasileira de Ginástica, Vicélia Angela Florenzano, o projeto vem complementar a Lei Agnelo/Piva, que destina 2% da arrecadação bruta de todas as loterias federais do país ao Comitê Olímpico Brasileiro (85%) e ao Comitê Paraolímpico Brasileiro (15%). "Estamos há 20 anos esperando por essa legislação. Agora temos a certeza de que não haverá um vácuo na evolução da ginástica brasileira", diz. Vicélia acha que a lei dará continuidade ao bom momento vivido pelo esporte no Brasil. "Demos um grande salto de qualidade há três anos, com a Lei Agnelo/Piva. Os empresários começaram a ver o esporte com outros olhos. Agora, temos a chance de prover de recursos todos os projetos esportivos e ver o Brasil, finalmente, se transformar numa grande potência olímpica."

Coaracy não espera grandes dificuldades para a aprovação da lei no Congresso. "Todos os partidos políticos a apóiam", justifica. Vicélia pede um controle "rígido" do Ministério do Esporte sobre a aplicação dos recursos. "Não podemos permitir que o mau uso das verbas venha a nos prejudicar."

Os dois também não vêem problemas para a captação de recursos depois da regulamentação da lei. "Temos o apoio da Associação Comercial do Estado do Paraná", informa Vicélia. "Já marquei reunião com a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro", diz Coaracy, que destaca uma outra qualidade do projeto: "Com a lei, vamos ver quem é de fato competente, quem vai ficar nos seus gabinetes esperando os recursos e quem vai sair atrás deles."

Coaracy e Vicélia dizem que os dirigentes esportivos ainda não fizeram as contas sobre o potencial de captação de recursos da nova lei. Coaracy, entretanto, arrisca um palpite: "Acho que vai ficar no mesmo nível da Lei Rouanet, entre R$ 400 milhões a R$ 600 milhões anuais."

Os dois, porém, têm certeza de que tanto o esporte de alto rendimento quanto o de inclusão social vão sair ganhando. A Confederação Brasileira de Ginástica quer ampliar o projeto que atualmente atende 600 crianças de baixa renda, em Curitiba. A Confederação Brasileira de Esportes Aquáticos pretende estender sua ação social para 80 mil crianças, numa associação com a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro.