Título: Instigado pelo PSDB, Haddad critica a educação nos anos FHC
Autor: Junqueira,Caio
Fonte: Valor Econômico, 24/11/2011, Política, p. A6

O ministro da Educação, Fernando Haddad, ensaiou ontem na Câmara dos Deputados seu discurso de candidato em campanha para prefeito de São Paulo pelo PT em 2012. Convidado a depor sobre os problemas do Enem, ele polarizou o debate com o PSDB paulista - um dos seus principais adversários no próximo ano. Fez, nesse sentido, um balanço positivo de sua gestão e criticou a gestão do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) no setor.

"Nos oito anos anteriores, o orçamento da educação não aumentou um real acima da inflação. Ficou estagnado. Herdamos uma taxa de investimento de 3,9% do PIB no setor. Hoje passa de 5%. O ex-presidente FHC vetou a meta de 7% estabelecida pelo Plano Nacional de Educação aprovado pelo Congresso", disse, ao responder aos deputados Vanderlei Macris e Duarte Nogueira, ambos do PSDB paulista.

Os deputados haviam feito perguntas sobre os sucessivos erros na administração das aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) nos últimos anos. O ministro, porém, preferiu deixar para o final essas respostas e iniciar sua explanação comparando a gestão petista com a tucana na educação. Chegou a dizer que o ex-ministro da Educação nos anos FHC, Paulo Renato Souza, morto em junho, constantemente elogiava sua atuação no ministério. E que o tucano recomendou ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, que ele fosse mantido no cargo no governo da presidente Dilma Rousseff. O ministro não explicou qual a procuração que tinha o ex-ministro adversário, morto, para fazer a recomendação.

"Estava aí o ministro ou estava aí o candidato [a prefeito de São Paulo]. Aprendi que o animal mais terrível na face da terra é o candidato. Ele é capaz de tudo. Seria uma covardia comparar o que acontece agora com o que acontecia na administração do Paulo Renato. E me chocou Vossa Excelência, depois de fazer tantas críticas, dizer que ele havia ele sugerido sua posse", afirmou o deputado Antonio Imbassahy (PSDB-BA).

A oposição também se incomodou com o fato de o ministro não ter anotado nenhuma pergunta feita pelos deputados e ter se recusado a fazer uma apresentação inicial sobre a Pasta, comum nesse tipo de sessão. Em alguns momentos, o ministro riu de algumas falas dos deputados.

O PSDB demonstrou que o Enem deve ser a tônica das críticas à gestão de Haddad nas eleições de 2012. "A história do Enem no governo Lula foi marcada pelas falhas sucessivas, dados cadastrais dos alunos expostos, cancelamento de provas por vazamento e falhas na impressão dos caderno, para ficar em alguns exemplos", disse Nogueira.

Sobre o assunto, Haddad esquivou-se de qualquer responsabilidade. Disse que o exame tomou uma dimensão maior do que quando foi criado e que isso despertou interesse de "bandidos" interessados com o "valor inestimável do resultado" do Enem. "O mau empresário, o mau professor, é sempre possível de existir. Não podemos misturar as coisas. As más pessoas de fora que querem prejudicar o avanço da educação não podem ser comparadas com as boas pessoas de dentro da administração", completou. Segundo ele, problemas no exame continuarão ocorrendo. "Vamos sofrer com atividades ilícitas, o mundo desenvolvido lida com isso. Não se iludam, as [falhas] vão continuar ocorrendo."