Título: Construção cresce de forma descentralizada
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Fonte: Valor Econômico, 09/12/2004, Empresas, p. B-2

Depois de três anos de queda, a indústria da construção volta a apresentar números positivos em 2004. O setor deve crescer 6,8% neste ano, segundo estimativas feitas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) para o Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo. De 2001 a 2003, o segmento acumulou uma retração de 9,5%. Só nos primeiros nove meses deste ano, a construção já acumula um Produto Interno Bruto de 5,9%, superior à expectativa inicial do Sinduscon, que era de 4,5%. Esse montante já é suficiente para cobrir a perda de 2003, que foi de 5,2% - o dado do ano passado sofreu uma revisão do IBGE, que havia divulgado uma queda de 8,6%. Mesmo assim, o setor avalia que o desempenho poderia ser superior. "É tímido para aquilo que se deseja ao país. Qualquer vento favorável torna os números bons", diz João Claudio Robusti, presidente da entidade. Os grandes responsáveis pela arrancada da construção foram as regiões distantes dos grandes centros. Tocantins, Mato Grosso e Rio Grande do Norte, por exemplo, empregaram 10% mais pessoas de janeiro a setembro deste ano na comparação com 2003, contra uma média nacional de 2,44%. Enquanto isso, em São Paulo, a variação foi de 1,6%. "O crescimento ainda não está disseminado geograficamente. Está é fora dos grandes centros", afirma Ana Castelo, consultora da FGV. O maior responsável pelas contratações foi o setor de edificações, que aumentou seus quadros em 1,24%. Segundo Castelo, a habitações foi bastante beneficiada pela resolução nº 3.177, que obriga os banco a aplicar 2% dos saldos do Fundo de Compensação das Variações Salariais em crédito imobiliário. O número de unidades financiadas pelo Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo cresceu 58% até setembro de 2004. Obras maiores, tocadas por grandes construtoras, também tiveram um bom desempenho neste ano. Castelo diz que isso pode ser percebido pelo aumento do consumo de aço vergalhão na construção, que subiu 21,5% de janeiro a outubro deste ano na comparação com 2003. "Quem mais consome aço são as grandes construtoras e em obras grandes." O consumo de cimento, maior termômetro da atividade de construção, cresceu apenas 0,24% no mesmo período, sendo que em São Paulo, ele caiu 5%. Já a produção física de materiais de construção aumentou 6,3% até setembro. Por causa do crescimento desigual tanto regionalmente quanto por porte de empresas, 60% das pequenas companhias ouvidas por uma sondagem da FGV com 310 empresários não registraram crescimento. O estudo da FGV estima em 4,6% o crescimento do PIB da construção em 2005. Segundo Castelo, o aumento só será sustentável se retornarem os investimentos. (CM)