Título: Dados ruins indicam recessão inevitável na Europa
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Fonte: Valor Econômico, 24/11/2011, Internacional, p. A13

Dois importantes indicadores divulgados ontem enterraram as esperanças de que os 17 países da zona do euro poderão se safar de um novo período de recessão, em meio a uma grave crise da dívida que se espalha para as maiores economias da região.

A economia do bloco se safou por pouco da contração ao crescer 0,2% no terceiro trimestre, segundo dados divulgados na semana passada. Mas nuvens cinzas surgiram com o chocante anúncio de que os pedidos das indústrias na zona do euro caíram 6,4% em setembro contra o mês anterior. Foi o maior declínio desde dezembro de 2008, superando as já pessimistas estimativas de analistas, que previam queda de 2,7%, em média, segundo enquete da agência Bloomberg.

Apesar de esse tipo de dado ser sujeito à volatilidade - uma grande compra da Airbus pode mudar completamente índice, por exemplo - os dados trazem mais desconforto a uma classe política que luta para estancar a crise da dívida. "A zona do euro já entrou em recessão neste trimestre", disse Thomas Costerg, economista do banco Standard Charterer, em Londres.

Na Alemanha, a maior economia da Europa, as encomendas da indústria caíram 4,4% em setembro contra agosto, quando a queda havia sido de 1,2%. Na França, o declínio foi de 6,2%, e, na Itália, de 9,2%. Grécia e Portugal também registraram queda.

A sensação de uma recessão iminente ficou ainda mais clara com os dados mensais de uma pesquisa da consultoria financeira Markit, acompanhada muito de perto pelo mercado.

Pelo terceiro mês seguido, seu Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) composto apontou uma contração. O PMI composto é um indicador amplo das atividades do setor privado, combinando dados dos setores de serviços e manufatureiro. O índice é usado como um guia para sinalizar crescimento ou retração no futuro próximo.

Apesar de ter subido de 46,5 para 47,2 pontos em novembro, o indicador ficou abaixo da marca de 50 pontos, limiar entre contração e expansão. Segundo a Markit, a pesquisa divulgada ontem sugere que a zona do euro está contraindo a uma taxa de 0,6% no quarto trimestre e que os a crise contagiou as maiores economias da região, Alemanha e França.

"Como se temia no início deste ano, o mal-estar se espalhou da periferia ao núcleo", disse Chris Williamson, economista-chefe da Markit. "Até a Alemanha está estagnando, e a França, contraindo em cerca de 0,5%."

Analistas dizem que os indicadores devem aumentar a pressão sobre o Banco Central Europeu para cortar novamente as taxas de juros, possivelmente já no mês que vem. Em novembro, o banco reverteu sua política recente, reduzindo sua taxa básica em 0,25 ponto percentual para 1,25% ao ano, em meio a crescentes preocupações sobre o estado da economia na zona do euro.

"Olhando adiante, a pesquisa recente aponta para uma futura deterioração das condições do setor industrial, assim como as notícias de hoje [ontem] - tanto o relatório sobre os pedidos quanto as pesquisas anteriores do PMI - reforçam nossa expectativa de uma recessão no setor industrial", disse James Ashley, economista da RBC Capital Markets.