Título: "Questão moral estará no centro do debate"
Autor: César Felício e Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 05/05/2006, Especial, p. A14
A seguir , a entrevista concedida na quarta-feira pelo senador Aloizio Mercadante:
Valor: São Paulo é o único Estado do Brasil em que o PT fará prévias. O senhor não teme que este processo deixe seqüelas?
Aloizio Mercadante: O processo foi respeitoso do início ao seu final. Teve um caráter até produtivo, já que o partido realizou uma mobilização ampla, com discussão em todos os diretórios. Não acredito em seqüelas.
Valor: O senhor sempre cita a força que tem entre os dirigentes do partido. Em sua opinião, o militante "solto", sem vinculações com movimentos ou lideranças, contará pouco nesta eleição interna?
Mercadante: Tenho o apoio de 11 dos 16 deputados federais, doze dos vinte e dois estaduais, 55 dos 57 prefeitos, 380 dos 471 vereadores e 472 dos 609 presidentes de diretórios municipais e isso deve ser um elemento importante. Mas conto também com força entre os militantes comuns. O comparecimento à prévia deve ser maior que na eleição interna para a escolha da direção do partido, em setembro do ano passado. De 71 mil filiados votantes deveremos passar para um número entre 80 mil e 90 mil filiados. E uma pesquisa de intenção de voto entre filiados me colocou em primeiro lugar, com 49% das preferências.
Valor: Fala-se em uma aliança entre o PT e o PMDB em São Paulo, ou em um palanque duplo para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Estado, com a candidatura a governador de Aldo Rebelo (PCdoB). O que o senhor pensa a respeito?
Mercadante: É uma discussão que pretendo ter logo depois do resultado das prévias. O PCdoB historicamente sempre esteve conosco. O PSB é um grande aliado nacional, mas aqui em São Paulo há uma disputa. Mesmo assim, há um setor do PSB que está disposto a ir conosco. O PDT, mesmo sendo de oposição, tem setores simpáticos a uma aliança. Já o PMDB é uma hipótese que só pode ser analisada depois que o partido definir claramente se terá ou não candidato a presidente da República.
Valor: O senhor lançou recentemente um livro com o balanço do governo Lula . A eleição em São Paulo não será completamente ofuscada pela sucessão presidencial?
Mercadante: A eleição nacional vai polarizar as disputas em todos os níveis e na campanha pretendo sim comparar a experiência de governo tucana com a experiência do governo petista em nível federal. Mas não deixarei de dizer que São Paulo cresceu abaixo da média nacional em nove dos onze anos de governo tucano, que não soube se posicionar na guerra fiscal entre os Estados, não soube lidar com a crise da Febem e nem impedir uma queda na qualidade de ensino.
Valor: Serra entrou na disputa pelo governo estadual com mais de 50% de intenção de voto. A que o senhor atribui esta dianteira?
Mercadante: O Serra se beneficiou da hiperexposição, já que foi candidato nas eleições majoritárias em 1994, 1996, 2002 e 2004. Mas renunciou à prefeitura depois de prometer não fazê-lo, e o ônus dessa decisão ainda virá. A maioria dos paulistanos nem sabe quem é o sucessor. Esta questão será muito importante a campanha inteira.
Valor: O senhor participou da formulação da nova lei sobre as campanhas, cuja validade para as eleições este ano ainda não está decidida. Será possível adotar algumas inovações mesmo se a lei não valer?
Mercadante: Espero que tudo entre em vigor, para que a campanha na televisão seja só a câmera e o candidato, o que seria muito importante. Mas pretendo adotar critérios de transparência, como colocar na internet o balanço de gastos e a receita, ainda que a lei que irá vigir este ano não preveja.
Valor: A questão ética deve dar a tônica do debate eleitoral deste ano, depois da crise que se abateu sobre o governo Lula desde 2005?
Mercadante: Esta questão moral vai estar no centro do debate, sem dúvida. Caberá a nós introduzir outros temas, como a questão do desenvolvimento, da economia, das políticas sociais. (CF)