Título: "É preciso criar CEUs por todo Estado"
Autor: César Felício e Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 05/05/2006, Especial, p. A14

A seguir, a entrevista concedida ontem pela a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy:

Valor: São Paulo é o único Estado em que a disputa por prévia foi inevitável. A senhora não teme a divisão partidária?

Marta Suplicy: Esta prévia foi muito diferente da que ocorreu em outros lugares e em outros momentos. Não vai haver conseqüências dolosas, porque somos conhecidos e queridos pela mesma base

Valor: A senhora obtém índices de intenção de voto superiores ao do adversário interno. De que maneira isto pode influenciar no resultado?

Marta: Terá uma importância decisiva, porque sendo os dois queridos do mesmo modo muitos terão como elemento de decisão identificar quem tem mais chance de ganhar a eleição. Na última pesquisa do Ibope, ganhei do Serra na simulação do segundo turno na capital por um ponto percentual de diferença.

Valor: Se a senhora ganhar a candidatura, a disputa com Serra será uma espécie de terceiro turno?

Marta: Não creio, mas o fato de ele ter prometido fazer uma revolução na gestão da prefeitura e não ter feito vai pesar quando chegar ao estágio da comparação das administrações, sendo que eu estive à frente de um governo e Mercadante não. Além disso, o senador não poderá lançar mão do recurso da renúncia do Serra, porque poderá ouvir dele a pergunta: E você? Está cumprindo o mandato até o fim?

Valor: O que irá dar o tom da eleição em São Paulo? O debate nacional, como diz seu adversário, ou a discussão regional, como dá a entender a senhora?

Marta: A eleição se dará em dois níveis, a do nosso programa de governo e o da defesa do governo nacional, mas a candidatura do Mercadante nacionaliza a campanha e isto é um equívoco. A defesa do presidente será feita com ardor por mim e pelo Aloizio, mas o componente da regionalização irá pesar e este eu terei mais condições de fazer, por já ter feito muito administrativamente.

Valor: Seu adversário interno sempre menciona o fato de ter o apoio da maioria dos dirigentes do PT. A senhora recebeu apelos para retirar a candidatura.

Marta: Estive com o Lula três vezes, uma delas por mais de uma hora, nos últimos dias. Conversamos francamente sobre tudo e em nenhum momento ele me manifestou qualquer preferência em São Paulo. No momento em que os rumores sobre um apoio a Mercadante ficaram muito fortes, pedi à Presidência uma manifestação de neutralidade e eles deram. Posso falar sobre rejeição nas pesquisas?

Valor: Claro.

Marta: Minha rejeição é mais alta porque isto é inerente aos que participaram de governos. A de Lula também é alta e nem por isso está em posição ruim nas pesquisas. Rejeição é trabalhável.

Valor: Mas as do Serra e do Alckmin são baixas e eles também saíram de governos.

Marta: O Serra vem de uma campanha eleitoral vencedora e o Alckmin passou seis anos blindado pela mídia.

Valor: Quais os limites que a senhora vê para a política de alianças do partido?

Marta: Devem ser as mais amplas possíveis. Fiquei sentida por não ter tido o PMDB ao meu lado em 2004. Mas o Quércia queria negociar a candidatura a vice comigo, em um momento em que as instâncias partidárias já haviam decidido pela chapa pura.

Valor: Agora o PT tem candidatos próprios para o governo do Estado e o Senado, que é o senador Eduardo Suplicy. O espaço a ser negociado é a vice-governadoria?

Marta: Exatamente.

Valor: Só a vice?

Marta: Sem dúvida. Só a vice.

Valor: Em poucas palavras, qual será a diferença essencial entre um eventual governo da senhora e a administração tucana em São Paulo?

Marta: A diferença será a do planejamento estatal. O Estado paulista é ausente no planejamento do Interior. Boa parte de São Paulo virou um imenso canavial. É preciso também criar CEUs por todo o Estado, mas voltados para o ensino médio e profissionalizante. (CF)