Título: PT teme divisão em São Paulo com prévias
Autor: César Felício e Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 05/05/2006, Especial, p. A14

O senador Aloizio Mercadante e a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy fazem este domingo a única prévia para governador do PT este ano, sob clima de apreensão entre lideranças do partido. O resultado da disputa é imprevisível, as apostas são de que a vitória se dará por margem muito reduzida, o que deve acirrar os ânimos.

"Esta prévia tem o complicador de colocar no embate duas pessoas da mesma corrente partidária. Isto faz com que o debate não seja programático, aumentando o risco de uma troca de acusações mais pesadas no instante seguinte ao da eleição", afirmou o deputado estadual Renato Simões, da tendência Força Socialista, que disputou e perdeu a prévia para governador contra Marta Suplicy em 1998, por larga diferença.

Um espaço privilegiado para o derrotado na campanha petista em São Paulo e no Brasil poderá ser uma alternativa para costurar a unidade depois do pleito interno. "Um pouco de machucado, sempre fica. Mas no ano passado, na disputa pela presidência, houve uma disputa mais intensa, com mais candidaturas e a recomposição foi possível. O partido deu nos últimos meses provas de maturidade", afirmou o presidente da sigla, deputado Ricardo Berzoini (SP). O quadro no resto do país é um indicativo. Em 2002, houve prévias para a presidência e no Rio Grande do Sul, Paraná, Goiás, Piauí e Ceará.

A disputa envolverá 187 mil filiados petistas, dos quais a previsão é que aproximadamente a metade compareça para votar. Tanto Mercadante quanto Marta estão perdendo no primeiro turno nas pesquisas de intenção de voto para o tucano José Serra e ainda precisam costurar as alianças estaduais. O senador apóia-se no amplo apoio de dirigentes petistas e prefeitos do interior beneficiados com sua atuação no Senado. A ex-prefeita acredita na maciça votação dos filiados da capital, onde está concentrada a maioria dos eleitores, e em sua experiência administrativa.

O resultado da eleição petista dependerá do quórum. Na capital, onde estão cerca de 40% dos filiados, a ex-prefeita tem a maioria. No interior, o senador Mercadante é o favorito e na região metropolitana os dois tem números semelhantes de apoiadores. A expectativa é de que o comparecimento supere os dados da eleição interna, realizada no ano passado, que registrou cerca de 70 mil votos.

O amplo apoio de prefeitos petistas em São Paulo - 55 dos 57- à candidatura de Mercadante é explicada pelo prefeito de Osasco, Emídio de Souza, por um fato muito simples: a ajuda do senador na liberação de emendas e na elaboração de projetos de acordo com as demandas dos prefeitos. "Cidades grandes, como Osasco, têm estrutura própria para negociar em Brasília. Mas cidades do interior precisam de ajuda para elaborar projetos e saber em que porta pedir recursos. Ele sempre foi muito atencioso com as prefeituras", explicou. Emídio foi um dos dez prefeitos que o deputado João Paulo Cunha levou consigo para a campanha de Mercadante, quando definiu seu voto. "Serra é um quadro político nacional que está indo para uma disputa estadual e a candidatura dele vai nacionalizar a discussão. Mercadante é o melhor para debater o governo Lula", justifica Emídio.

O grande número de dirigentes ao lado do senador não se reflete necessariamente em votos, apontam defensores de Marta. "Militante do PT não gosta de ser dirigido", disse o deputado federal Devanir Ribeiro. "Em geral, esses candidatos são rejeitados pela base", disse o dirigente Jilmar Tatto. Martistas relembram dois episódios: Em 1988, Plínio de Arruda Sampaio perdeu para Luiza Erundina para disputar a Prefeitura de São Paulo. Em 1996, Mercadante foi derrotado também por Erundina na prévia pelo governo municipal.

Do lado de Marta, a defesa de sua candidatura aponta sua experiência administrativa na cidade de São Paulo, entre 2001 e 2004 e critica o fato de o senador abandonar o mandato de mais quatro anos a que tem direito. Mercadante indica os altos índices de rejeição contra Marta e mostra-se como o mais preparado para defender o presidente Lula. O perfil dos eleitores do senador é mais parecido com o de Serra: pessoas com mais escolaridade, renda maior e mais velhos. Os eleitores de Marta tem renda menor e são mais jovens, segundo pesquisas Ibope divulgadas.

Uma das grandes diferenças entre os dois pode ser a facilidade de aproximação ao PMDB para firmar aliança. Em 2004, Marta rejeitou a participação do partido em sua chapa na disputa pela reeleição, mesmo diante de pedidos da direção petista. A ex-prefeita sinaliza que não colocaria barreiras neste momento. Apoiadores de Mercadante indicam que o senador estaria disposto a dar aos pemedebistas sua vice. "Não vejo dificuldade de Mercadante em firmar alianças amplas. Ele sabe que o PMDB é importante pelo apoio, pelo tempo na televisão", argumentou Emídio.

Os defensores de Mercadante sabem que a vitória ainda está longe dos horizontes petistas no Estado. A prioridade, afirmam, é a defesa do governo federal e a campanha no Estado seria um instrumento de ajuda de Lula. "Em primeiro lugar vem a reeleição de Lula. Depois estão os acordos estaduais e as disputas pelos governos", sintetizou Emídio. Entre os martistas, há divergências. "O presidente Lula não precisa nem de Serra nem de Marta. Todo mundo fala em ajudá-lo, mas na verdade todo mundo quer é ser ajudado", definiu Devanir Ribeiro.