Título: Sebrae privilegia as grandes e acirra ânimos
Autor: Nelson Niero
Fonte: Valor Econômico, 09/12/2004, Empresas, p. B-2

Uma concorrência do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas para escolher o auditor independente promete ser mais que o usual processo burocrático de abertura de envelopes e análise de propostas. As exigências do edital irritaram alguns profissionais do setor, que acusam o Sebrae de discriminar as pequenas e médias auditorias. "Praticamente eliminaram a possibilidade de uma empresa média participar da concorrência", diz Antonio Carlos Nasi, da RBA Global Auditores Independentes, com sede em São Paulo. "Não deixa de ser irônico que isto esteja acontecendo com o principal organismo de apoio às micro e pequenas." O processo de escolha começa hoje, às 10h, com a abertura das propostas. Segundo o Sebrae, 23 empresas retiraram o edital. O vencedor terá que auditar as 27 unidades do Sebrae e também emitir um parecer sobre o balanço consolidado da entidade. Segundo Nasi, a exclusão começa com a exigência de que a empresa participante tenha no mínimo 57 profissionais destacados para a auditoria em todo o sistema, fazendo o trabalho simultaneamente. Isso já limitaria a disputa às maiores do setor, as gigantes Deloitte, PricewaterhouseCoopers, KPMG e Ernst & Young - a atual auditora do Sebrae -, além de outras poucas do segundo escalão, como BDO Trevisan. Outro item que deve acirrar o espírito de corpo dos contadores é o que o Sebrae chama de "formação complementar", que permite a participação na equipe de engenheiros, advogados e administradores - "uma desmoralização para a profissão contábil", diz Nasi. Isso, segundo ele, também favorece as chamadas "Big Four", "que estão cheias de leigos nos seus quadros de auditores". Se não bastasse, o preço oferecido também não agradou: R$ 81,25 por hora, sem incluir as despesas (de viagem e hospedagem, por exemplo), que estaria "muito abaixo do mercado". O Sebrae adotou um auditor único para todo o sistema há dois anos. Antes, cada regional tinha seu auditor, geralmente firmas pequenas e médias. Segundo um funcionário qualificado do órgão, essa questão foi "muito debatida" e os conselheiros decidiram que havia "mais prós do que contras" nessa decisão. O objetivo era ter um trabalho de auditoria homogêneo e evitar abusos. Segundo ele, houve casos em que o auditor fez o balanço que deveria auditar.