Título: Greve dos bancários afetou crédito
Autor: Izaguirre, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 24/11/2011, Finanças, p. C12

O saldo dos empréstimos e financiamentos do sistema financeiro aumentou 0,8% em outubro, ritmo inferior o de setembro, quando a expansão chegou a 2,1%. O fluxo mensal de crédito novo com recursos de livre aplicação pelos bancos foi 2,1% menor, o que contribuiu com a desaceleração do estoque. Essa redução na margem, no entanto, decorreu basicamente do menor número de dias úteis. Mesmo com as agências fechadas pela greve dos bancários até dia 17, na média por dia útil, essas concessões subiram 2,8% em relação a setembro, segundo números fornecidos ontem pelo Banco Central.

Mantendo tendência já verificada, a média diária de concessões subiu mais para as pessoas físicas: 6,4%. Para as empresas, a média avançou apenas 0,3%.

Retirando efeitos da inflação e de fatores sazonais, a variação da volume médio por dia útil foi mais modesta, ficando respectivamente em 3,48% e 0,69%, ainda assim positiva, segundo série dessazonalizada e deflacionada calculada pelo Banco Votorantim. De acordo com essa série, mesmo subindo, as médias diárias de crédito novo ainda não se recuperaram ao patamar de novembro de 2010, mês anterior ao do anúncio das medidas macroprudencais de restrição ao crédito. Como elas fizeram efeito, diante da desaceleração da economia, o governo já relaxou parcialmente essas restrições recentemente.

Os números do BC mostram que a desaceleração do estoque de crédito, que fechou outubro em R$ 1,946 trilhão, não foi influenciada apenas pela queda no fluxo mensal de concessões, que foi R$ 181,6 bilhões. Também pesou o efeito do recuo da taxa de câmbio sobre operações atreladas à variação cambial, informou Túlio Maciel, chefe do Departamento Econômico do Banco Central (Depec). O impacto foi mais perceptível na carteira do BNDES, cujo saldo caiu 0,2% no mês, fechando setembro R$ 398,325 bilhões. Incluindo operações do BNDES, o estoque do crédito direcionado todo (com recursos de aplicação obrigatória) subiu em torno de 0,7%, fechando o mês em R$ 689,421 bilhões. O saldo dos empréstimos e financiamentos com recursos livres avançou 0,8% e atingiu R$ 1,257 trilhão.

A taxa média de juros das concessões de crédito livre subiu para as pessoas físicas, saindo de 45,7% para 47% ao ano, de setembro para outubro. A elevação refletiu um incremento dos spreads praticados pelos bancos. Nesse segmento da clientela, a diferença entre os juros finais e a taxa de captação de recursos pelas instituições financeiras subiu 1,5 ponto percentual, indo a 36,5 pontos percentuais em média.

Para as empresas, a taxa média de juros das operações com recursos livres ficou em 29,8% ao ano, dos quais 19 pontos percentuais relativos a spread. O spread médio para o segmento subiu 0,1 p.p. em relação a outubro. Mas com queda no custo de captação, ainda assim a taxa de juros recuou 0,2 p.p.

Túlio Maciel avalia que a greve dos bancários influenciou o aumento dos juros e spreads para as pessoas físicas, ao afetar o "mix" de modalidades de crédito, cujos volumes são levados em conta pelo BC. A participação de linhas mais caras no total subiu, afetando a média ponderada.

A impossibilidade de ir às agências favoreceu a tomada de recursos em cheque especial, cartão de crédito e em linhas de "prateleira" (pré-aprovadas) acessíveis pela internet, cujos spreads e juros são mais altos. Ao mesmo tempo, a concessão de linhas normalmente mais baratas e que exigem presença física nas agências foi prejudicada. Foi o caso dos empréstimos para desconto em salário (crédito consignado), cujo fluxo caiu 13,4% no mês. Já no cheque especial e no cartão de crédito, os fluxos foram respectivamente 4,3% e 7% superiores aos de setembro.

Túlio Maciel também atribui à greve a elevação da inadimplência do crédito livre, que passou de 7% para 7,1% no caso das pessoas físicas e de 3,8% para 4% no caso das empresas. Segundo ele, acordos de reestruturação de dívida deixaram de ser firmados nesse período, impedindo que os respectivos valores saíssem da estatística sobre operações com pagamentos em atraso há mais de 90 dias.