Título: Supostos 'sanguessugas' vão ao Conselho de Ética
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 13/07/2006, Política, p. A8

A crise das sanguessugas começa a fazer as primeiras vítimas. PPS, PSOL e PV apresentaram ontem representação ao Conselho de Ética da Câmara contra os deputados Nilton Capixaba (PTB-RO) e João Caldas (PL-AL). Os dois parlamentares ocupam a terceira e a quarta secretarias da Câmara e são acusados de envolvimento com a máfia especializada em superfaturar a compra de ambulâncias por prefeituras em diversos Estados. Os partidos pediram a cassação dos políticos por quebra de decoro parlamentar. Os dois deputados foram os primeiros a terem seus nomes enviados ao Conselho de Ética por se recusarem a deixar a Mesa Diretora da Câmara. Ao receber da Polícia Federal e do Ministério Público informações sobre a suposta ligação de Capixaba e Caldas com a quadrilha, a CPI das Sanguessugas pediu ao presidente da Casa, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que os afastasse das funções na Mesa.

O regimento interno da Câmara não permite, porém, afastamento unilateral de qualquer integrante de suas funções. A única opção é a renúncia. Caldas e Capixaba não deixaram os cargos que ocupam na Mesa e anunciaram apenas que não participariam mais de suas reuniões. Segundo a Polícia Federal, os dois parlamentares apresentaram emendas ao Orçamento para a compra de ambulâncias superfaturadas.

Os dois, conforme a Polícia Federal, teriam inclusive recebido R$ 50 mil de propina. "Não temos convicção de que são culpados. Queremos mesmo é o afastamento da Mesa. E a única forma de conseguirmos isso é pedindo ao Conselho de Ética " , disse Fernando Gabeira (PV-RJ).

O presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP), afirmou não haver no regimento interno da Câmara previsão de afastamento da Mesa por causa de investigação em CPI. O colegiado terá de criar jurisprudência sobre o tema.

Na próxima semana, os três partidos pedirão a cassação de outros dois deputados suspeitos de envolvimento com a máfia das ambulâncias: Wanderval Santos (PL-SP) e Pedro Henry (PP-MT), ex-líder de seu partido. Eles foram escolhidos agora em função da reincidência.

Esses deputados faziam parte da lista de políticos supostamente envolvidos com o recebimento de mensalão, investigado por três CPIs até o início de 2006. "Eles já foram condenados uma vez pelo Conselho, mas absolvidos pelo plenário. A Câmara dos Deputados precisa se pronunciar novamente sobre eles", afirmou Gabeira.