Título: Brasil espera decisão da Bolívia sobre estrada
Autor: Villaverde,João
Fonte: Valor Econômico, 14/10/2011, Internacional, p. A10

O governo brasileiro não vai tomar nenhuma decisão quanto às obras da rodovia Beni-Cochabamba, na Bolívia, enquanto os bolivianos não definirem os rumos do projeto. Esta foi a conclusão do Comitê de Financiamento e Garantia das Exportações (Cofig), ligado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), que se reuniu ontem por três horas.

"O governo boliviano precisa antes decidir o que fará da rodovia para então nos posicionarmos sobre o assunto", explicou um dos integrantes do Cofig.

Enquanto o colegiado de técnicos de cinco ministérios (MDIC, Fazenda, Planejamento, Relações Exteriores e Casa Civil) se reunia, o Senado boliviano anunciava a suspensão do segundo trecho da rodovia. O presidente boliviano, Evo Morales, entusiasta da obra, apresentou um plano B, que altera sensivelmente o traçado da rodovia, de forma a dirimir os conflitos com os povos indígenas que vivem na reserva cruzada pelo trajeto previsto no projeto original.

A construção do segundo trecho está a cargo da construtora brasileira OAS, que conta com financiamento de US$ 332 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Especula-se no governo que a mudança no traçado deverá elevar os custos da obra e, consequentemente, exigir maior financiamento do banco estatal.

O BNDES ainda não liberou nenhuma verba para o projeto. No entanto, para integrantes do governo brasileiro, o Convênio de Crédito Recíproco (CCR) e os contratos de fornecimento de gás natural boliviano proporcionam garantias à operação. "Não nos cabe decidir se haverá ou não estrada e o seu traçado. Nosso papel é secundário", comentou uma fonte do Palácio do Planalto.

Em seu projeto original, a obra atravessa um santuário natural e reserva indígena, o que gerou protestos contra a estrada e provocou uma grave crise no governo boliviano. A base aliada ao governo Morales está dividida. Diante de divergências entre as populações indígenas do chamado altiplano e os indígenas amazônicos, o presidente boliviano trabalha para que o Congresso de seu país aprove um traçado alternativo que contorne o Território Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure (Tipnis).

O governo de Morales também está dividida em relação a projetos de desenvolvimento que aumentem a exploração de recursos naturais.