Título: Decisão da Anvisa tem pouco impacto
Autor: André Vieira
Fonte: Valor Econômico, 09/12/2004, Empresas, p. B-6

O cancelamento do registro de 130 remédios similares por parte da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) terá baixo impacto nas vendas dos laboratórios farmacêuticos. A maioria dos similares cancelados já não era produzida nem vendida, segundo consulta feita pelo Valor a grandes laboratórios nacionais. É o caso da Biosintética, Cristália e União Química, que tiveram, juntas, 15 similares incluídos na lista. Alguns produtos nem sequer foram lançados. "Os medicamentos eram antigos, perderam espaço para outros e não faziam mais parte de nossa linha de produtos, mas o registro ainda existia", disse Flávio Trigo, diretor de marketing da Cristália, que teve seis similares na lista. A agência cancelou o registro de similares de baixo índice terapêutico (dose da droga quase equivalente à toxicidade) de laboratórios que não apresentaram até o dia 1º testes de biodisponibilidade que comprovam sua eficiência. A Anvisa suspendeu também a fabricação de 30 similares cujas empresas estão com seus testes em andamento e devem apresenta-los no prazo de um ano. No caso da União Química, os similares suspensos representam 0,3% do faturamento de cerca de R$ 220 milhões de 2003. A Sanofi-Aventis e a Greenpharma informaram que pediram revisão à Anvisa de produtos cancelados. Os registros para comercialização do similares são válidos por cinco anos, e os testes exigidos pela Anvisa custam entre R$ 130 mil e R$ 150 mil por produto, o que reduz o interesse dos laboratórios em manter similares que vendem pouco no mercado. A estratégia de cada laboratório dependerá de uma análise de quanto o produto poderá gerar em vendas. "Mas, se houver oito medicamentos iguais em um mercado pequeno e sete deles saírem, o negócio pode se tornar atrativo", disse Trigo, da Cristália, que tem boa parte das vendas com similares. Embora mantenha uma linha de similares, a Biosintética decidiu concentrar-se em produtos inovadores e genéricos. Cerca de 70% dos 18 mil remédios vendidos no país são similares. Entre os cancelados, estão remédios para epilepsia, distúrbios psiquiátricos, problemas cardíacos, hipertensão e asma. Para a Anvisa, a participação dos remédios vetados no mercado é pequena. "A medida não teve caráter econômico, mas um impacto para garantir qualidade", justificou o gerente de regulação econômica e monitoramento de mercado da Anvisa, Pedro Bernardo. Em alguns segmentos, o efeito foi inferior a 3% do mercado. "A tendência é os laboratórios ficarem cada vez mais especializados. Ao se garantir maior qualidade, os laboratórios ficam credenciados a vender para a América Latina e se protegem de produtos sem testes", disse. A Anvisa obrigará os testes para todos os similares até 2014.