Título: Baixo preço do leilão foi influenciado pelas estatais
Autor: Leila Coimbra e Claudia Schüffner
Fonte: Valor Econômico, 09/12/2004, Empresas, p. B-7

As estatais federais Eletronorte e Chesf foram as responsáveis pelos preços abaixo das expectativas no megaleilão de energia existente, realizado na terça-feira. Esta é a avaliação de executivos do setor e de analistas de bancos de investimentos que acompanharam o leilão. As duas venderam quase a totalidade do que haviam ofertado. "Pelo volume de energia que era movimentado, sabia-se que o sistema Eletrobrás (Chesf, Furnas e Eletronorte) comandava o leilão. Mas Furnas manteve a posição de preservar um pouco mais os seus lucros do que a Chesf e a Eletronorte", disse um executivo que preferiu não se identificar. Outra fonte do setor acredita que teria sido uma estratégia mais eficiente para as duas empresas se elas tivessem tirado um pouco do volume de energia que estavam oferecendo. "Para vender 10% mais, elas abaixaram em R$ 15 a tarifa, o que não é uma estratégia de maximização de lucros. Não é uma estratégia que o acionista acha razoável, e isso se refletiu no preço das ações". A Eletronorte e a Chesf são respectivamente a segunda e a terceira geradoras que têm a energia mais barata hoje no mercado, e por isso tiveram vantagem em relação às demais. A Eletronorte vende a R$ 55,8 o megawatt hora (MWh) enquanto a Chesf recebe R$ 57,6. A geradora cuja energia vendida hoje é a mais barata do país, a Cemig - R$ 52,5 o MWh - curiosamente ficou com uma sobra de 1.100 megawatts (MW), segundo análise do Merrill Lynch, não tendo oferecido nenhum contrato com a entrega a partir de 2005 ou 2007, mas apenas 927 MW a partir de 2006. A sobra, segundo o Merrill Lynch, equivale a 30% da capacidade total da geradora, e provavelmente será direcionado para clientes livres. As estratégias de cada empresa no leilão refletiram no comportamento das suas ações, segundo analistas. A Eletrobrás perdeu R$ 5 bilhões em apenas dois pregões, com uma queda de 21,54%. A segunda pior foi a Cesp, com as preferenciais acumulando baixa de 19%. A queda da Cesp se deveu ao fato da empresa ter ficado com sobras de 1.500 MW sem comprador. Já a Cemig, que também teve uma posição mais cautelosa no leilão caiu menos. Seus papéis ON se desvalorizaram 3,85% nos dois dias, bem menos que as outras. O presidente da Eletrobrás, Silas Rondeau, considerou o saldo positivo. Ele disse que há sete dias as ações da empresa estavam no patamar que encerraram ontem. "Os valores estão voltando ao normal". Rondeau disse que suas controladas Furnas, Chesf e Eletronorte comercializaram 83% da energia comprada no leilão, a uma tarifa média de R$ 61,90, escapando da ameaça de continuarem sem contratos, tende de vender no mercado atacadista, onde a energia está valendo R$ 18,59. Uma fonte da Eletronorte defende a estratégia da empresa, dizendo que os preços no leilão ficaram dentro do esperado pela diretoria da estatal. Segundo a fonte, a Eletronorte manteve o nível adequado de remuneração dentro do proposto. A empresa vendeu tudo o que tinha ofertado. Mas, segundo a fonte, a estatal estava em uma posição confortável porque neste ano conseguiu vender mais de 50% da energia da hidrelétrica de Tucuruí em leilões para as fabricantes de alumínio Albrás e Alumar e para o complexo Onça Puma, de exploração de níquel no Pará. O presidente da Chesf, Dilton da Conti, elogiou a estrutura do leilão e disse que, para a empresa, foi melhor fechar contrato com preço médio 6% abaixo dos contratos iniciais do que ficar descontratada, vendendo no mercado atacadista. "Vendemos 22% do que o mercado queria comprar. A opção era não vender ou baixar o meu preço. A Chesf perde um pouco de rentabilidade em relação ao patrimônio líquido mas isso não afeta muito o lucro", disse Dilton da Conti. A Eletrobrás informou que Furnas vendeu 3.076 MW para entrega em 2005 por R$ 60,94 o MW. Para início em 2006 a estatal vendeu 2.527 MW por R$ 69,58 e para 2007 foram 150 MW por R$ 77,70. Os executivos das duas principais geradoras privadas de energia passaram o dia de ontem analisando os resultados do leilão e fazendo um balanço. O vice-presidente da Duke Energy, Paulo Born, disse apenas que a empresa ainda avalia os próximos passos. Ele concorda que os preços no leilão ficaram abaixo do esperado. Já o presidente do conselho da Tractebel, Maurício Bähr, calculou que os 10 MW vendidos correspondem a 0,28% da receita. "É mais interessante tentar contratos com clientes com quem podemos negociar as cláusulas e o índice de correção".