Título: OAS para obra na Bolívia por falta de pagamento
Autor: Murakawa,Fabio
Fonte: Valor Econômico, 08/12/2011, Internacional, p. A13

Alegando falta de pagamento, a construtora brasileira OAS suspendeu nesta semana as obras da construção de uma rodovia na Bolívia financiada pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

A decisão ainda não foi anunciada oficialmente pela empresa nem pelo governo boliviano. Mas o Valor teve acesso a uma carta enviada anteontem pelo representante da empreiteira à Presidência da República da Bolívia comunicando a suspensão dos trabalhos.

Governo e empreiteira já vinham discutindo nas últimas semanas o pagamento das obras executadas até aqui. A empresa exige cerca de US$ 190 milhões, enquanto os bolivianos se dispõem a pagar US$ 143 milhões, apurou o Valor. O fato de que o BNDES ainda não liberou nenhuma verba dificulta as negociações.

A rodovia, com 306 km e orçada em US$ 415 milhões, tem um financiamento previsto de US$ 322 milhões do banco de fomento brasileiro. A obra foi projetada para ligar os Departamentos (Estados) de Beni e Cochabamba. Mas o negócio começou a azedar por conta do trecho 2 da estrada, de 177 km, que cortaria ao meio o Território Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure (Tipnis).

Sem terem sido consultados pelo governo, líderes de entidades indígenas locais promoveram uma marcha de 500 km percorridos em dois meses para tentar barrar a obra. Pressionado pelos índios na chegada da marcha a La Paz, no final de outubro, e pelo amplo apoio popular aos marchistas, o presidente Evo Morales assinou uma lei proibindo aquela e qualquer outra rodovia de atravessar o parque, declarado "intangível".

A lei aliviou a pressão dos indígenas sobre Morales, mas deixou descontente sua base política de cocaleiros e agricultores de Cochabamba, que contam com a rodovia para escoar sua produção.

Além disso, o BNDES ficou em uma situação delicada para liberar o dinheiro para uma rodovia cujo trecho mais importante ainda não tem um traçado definido. Segundo fontes do governo brasileiro, a oposição que já havia dentro do banco ao financiamento por conta do conflito com os indígenas só fez crescer após a lei.

A OAS continuou as obras nos trechos 1 e 3 da rodovia até o início desta semana. Diante da falta de pagamento, decidiu parar as máquinas. Na carta enviada ao governo, a empresa afirma que vai esperar que "se defina a situação com o órgão financiador brasileiro [BNDES] e se desembolsem a favor da OAS os valores correspondentes" aos trabalho já executados.

Alinhados aos cocaleiros, grupor indígenas de Cochabamba preparam para o dia 17 uma contramarcha a favor da estrada. Morales conta com isso para tentar revogar a lei e viabilizar a rodovia.