Título: Guedes segue a trilha de Rodrigues
Autor: Mauro Zanatta e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 04/07/2006, Agronegócios, p. B12

O novo ministro da Agricultura, Luis Carlos Guedes Pinto, anunciou ontem, em seu discurso de posse, no Palácio do Planalto, que "há consenso" no governo para a revisão dos índices de produtividade das lavouras. "Houve consenso entre as propostas dos ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário. Agora, o assunto está aqui na Presidência para uma decisão", afirmou. O consenso já existia na gestão de Roberto Rodrigues, e, segundo apurou o Valor, o presidente Lula quer evitar tratar do assunto antes das eleições de outubro. Uma revisão permitiria o aumento dos índices e a desapropriação de terras consideradas improdutivas para ampliar o estoque de terras disponíveis à reforma agrária. Polêmico, o tema divide o governo Lula desde seu início. O ex-titular do MDA, Miguel Rossetto, defendia a revisão. O agora ex-ministro Roberto Rodrigues tentava, com o apoio da bancada ruralista, retardar a decisão.

Um das principais lideranças ruralistas no Congresso, o deputado Ronaldo Caiado (PFL-GO), afirmou que o novo ministro não representa o setor, o que explicaria a ausência de deputados da bancada na posse de ontem. E acusou Guedes de ser um interlocutor do MST no governo. "O Roberto Rodrigues não nos disse que o governo pretendia alterar o índice de produtividade. O presidente Lula aparelhou o Ministério e colocou alguém para ser office-boy dos sem-terra e do Bruno Maranhão [líder do MLST que comandou a invasão ao Congresso, no mês passado]", criticou Caiado.

Em discurso, Guedes rebateu, de forma indireta, as críticas sobre uma suposta proximidade excessiva com o MST. "Estou seguro que, quando não há pré-juízos ou pré-conceitos [...], sempre é possível encontrar a melhor solução [..]", disse. O novo ministro, que tomou posse sem nenhum parlamentar ruralista presente nem tampouco membros da equipe econômica do governo - mas com apoio de vários líderes petistas -, afirmou que manterá a linha de atuação de Rodrigues. Guedes elegeu seis temas para sua gestão: consolidação da agroenergia; maior participação do setor privado nas decisões; reforço da defesa agropecuária; novos mecanismos de política agrícola para neutralizar crises; melhoria da promoção comercial; e a redução de "desequilíbrios" entre produtores e empresas processadoras do agronegócio. "Nossas portas estarão sempre abertas para todos. O diálogo franco e leal é tônica da qual não abriremos mão".

O presidente Lula fez questão de elogiar o antecessor de Guedes. Relembrou que não conhecia Roberto Rodrigues antes do governo e, em uma declaração que arrancou risos na platéia, afirmou que "nunca acreditou nesse negócio de amor à primeira vista". Ele afirmou ainda que poucas vezes viu alguém com tanta sensibilidade para atravessar momentos de crise. E demonstrou confiança em sua reeleição: "Pedimos a Deus que não tenhamos mais crises nos próximos dois, três anos", declarou o presidente.

Lula deixou claro que não demitiu Rodrigues e que sua saída foi por decisão própria. "Eu decidi que você seria ministro da Agricultura, foi uma vontade pessoal minha. Você decidiu que precisaria dar um tempo na tua vida", disse. Nos bastidores, um dos motivos apontados para a súbita saída de Rodrigues foi sua recusa em participar da campanha de Lula. A despedida de Rodrigues foi concorrida, com a presença de lideranças do setor, 16 ministros de Estado, do vice-presidente José Alencar e uma claque de amigos e familiares que veio de Guariba (SP), onde fica localizada sua fazenda.