Título: Mercado prevê nova alta do juro
Autor: Cristiane Lucchesi, Luiz Sérgio Guimarães e Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 09/12/2004, Finanças, p. C-1
A quase totalidade dos analistas ouvidos pelo Valor espera um aumento de 0,5 ponto percentual, para 17,75% ao ano, na taxa básica de juro (Selic) na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na semana que vem. Um dos principais fatores apontados por todos eles para a continuidade do aperto da política monetária é o nível ainda elevado da inflação corrente. Os analistas consideram que os núcleos do IPCA (o índice oficial de inflação) de novembro, divulgados ontem, continuam incompatíveis com o objetivo de inflação do BC de 5,1% para 2005. Ficam entre 6,5% e 7,7% anualizados. O núcleo calculado pela exclusão das maiores e menores variações de preços e pela diluição dos preços administrados ao longo de 12 meses - médias aparadas com suavização - ficou em 0,62% em novembro, o equivalente a 7,6% anualizados.
"O núcleo do IPCA é bom indicador de tendências para a inflação futura e ele continua alto e não está cedendo", diz Adauto Lima, economista do WestLB do Brasil. Por isso, ele acredita que o BC tem de elevar o juro em 0,5 ponto percentual. O ritmo de alta nos juros, a seu ver, pode cair em janeiro, para 0,25 ponto percentual, visto que o real está mais forte, os preços do petróleo caíram em relação à reunião do Copom de novembro e a atividade econômica já mostra sinais de arrefecimento. "O núcleo por médias aparadas com suavização tem encontrado resistência para vir para baixo de 0,6%", comenta a analista sênior do Real ABN AMRO, Andressa Tezine, da equipe do economista-chefe Mário Mesquita, que acredita em alta de 0,5 ponto percentual na taxa Selic. A queda no câmbio não está contribuindo tanto para conter a inflação como se esperava, continua ela. Por causa da força da inflação, mesmo com o real mais valorizado, o economista-chefe do Banco Pátria, Luís Fernando Lopes, trabalha com a perspectiva de alta contínua da Selic até março, quando estará entre 18,25% e 18,50%. Só então o BC fará uma parada técnica destinada a reavaliar o crescimento econômico e o ambiente internacional. O estrategista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz, cita, além do núcleo do IPCA ainda alto, outra razão para a alta de 0,5 ponto percentual da taxa Selic agora: a inflação projetada pelo mercado para 2005, de 5,8%, continua acima da meta de 5,1% do BC. O economista-chefe do HSBC Investment Bank, Alexandre Bassoli, ressalta que, na ata da reunião de novembro, o Copom indicou que o processo de alta da Selic teria continuidade neste mês, acenando até com a perspectiva de acelerar o ritmo de aumento dos juros. Também por isso ele acredita na alta de 0,5 ponto nos juros agora. Para Alberto de Oliveira, do Banif Primus, as recentes compras de dólares, via Tesouro e diretamente pelo BC, também terão impacto na decisão do Copom. "Por mais que se diga o contrário, a percepção de que existe um piso para a moeda americana deve alterar as projeções futuras de cotação da divisa, impactando nos cálculos de inflação", observa. Mas o analista adverte que, pelo modelo matemático utilizado pelo BC, os dados mais recentes sobre juro e câmbio já podem estar apontando para IPCA em 2005 bem perto da meta de 5,1%. Isto porque, com câmbio a R$ 2,80 e juros a 16,75%, o modelo do BC projetava algo abaixo de 5,6%, número com o qual trabalhava no último Relatório de Inflação. Com dólar a R$ 2,70 e juros a 17,25%, o resultado da simulação deve mostrar número mais baixo ainda, acredita. "A grande pergunta é quando o círculo de aperto monetário vai chegar ao fim: já em dezembro ou em janeiro", diz Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco. Como o Produto Interno Bruto real já pode estar "rodando" abaixo do PIB potencial (aquele que não gera inflação) no quarto trimestre, o BC deve subir as taxas básicas em 0,5 ponto percentual agora e já pode ensaiar um aumento menor nos juros em janeiro, de 0,25 ponto, para depois parar, acredita. Mas, segundo fez questão de frisar Octavio de Barros, sua opinião é preliminar, visto que as expectativas do Bradesco serão definidas só hoje, em encontro com cerca de 16 pessoas da tesouraria do departamento de economia. Para Fábio Akira, economista do JP Morgan, o ciclo de aperto monetário estará terminado após a alta de 0,5 ponto percentual agora. "O BC deve fazer uma pausa em janeiro." A tarifa menor do que a esperada no leilão de energia de anteontem vai reduzir as projeções de inflação do mercado, acredita Ricardo Junqueira, sócio-gestor da Ático Asset Management. Ele acredita que, em função do leilão, as expectativas médias de inflação do mercado podem cair para 5,6%. Mas, no seu entender, a indústria ainda está com uma margem de lucro grande demais e não precisa tomar crédito. Por isso, a alta de juros tem impacto limitado no crescimento. Em 2005, a economia do mundo todo vai desacelerar, lembra. "Mas, agora, o BC precisa subir os juros só por precaução", diz ele. O diretor da GRC Visão, Alex Agostini, diz que o IPCA não preocupa. O índice referente a novembro mostrou que os preços livres estão subindo pouco, 0,29% em outubro e 0,39% no mês passado, o que retira um dos focos de preocupação do BC: a possibilidade de surgimento de inflação de demanda. Após a esperada alta de meio ponto este mês, o Copom tende, em janeiro, por meio da elevação de 0,25 ponto, a sinalizar a interrupção do ciclo de alta quando a Selic chegar a 18%. "O problema é que a taxa ficará estável nesse nível por um longo período", prevê. Tomás Málaga, economista-chefe do Banco Itaú, é voz dissonante. Ele vê como mais provável um aumento de 0,25 ponto percentual nos juros agora. Além da queda nos preços do petróleo e da valorização do câmbio, ele cita a melhoria de 5,9% para 5,8% nas expectativas de inflação do mercado. Ele acredita que a Selic a 17,50% já é um "bom nível" e não crê em novo aumento em janeiro. "Os juros reais vão para perto de 11,5% a 12% ao ano e farão a economia crescer em um ritmo moderado, em linha com seu potencial", diz. Único analista entre os ouvidos pelo Valor que acredita na manutenção da Selic em 17,25%, Marcelo Ribeiro, da distribuidora Pentágono, diz que a alta do juro iria estimular a venda nos mercados futuros de dólar e derrubar a cotação à vista.