Título: Adesão recebe críticas de empresários e sindicalistas
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 05/07/2006, Brasil, p. A3
Uma reunião extraordinária de presidentes do Mercosul oficializou ontem a entrada da Venezuela no bloco sul-americano, sob protestos das principais associações de empresários venezuelanos e da central sindical ligada à oposição, que se queixam da falta de consultas do governo ao setor privado e temem a competição dos produtos do Brasil e da Argentina. Indiferente às críticas, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, em reuniões consecutivas, fez promessas de ajuda e investimentos venezuelanos aos presidentes da Argentina, Néstor Kirchner, do Paraguai, Nicanor Duarte Frutos, e do Uruguai, Tabaré Vazques.
Chávez anunciou um acordo binacional para prospecção de petróleo no Paraguai, país a quem prometeu financiamento de US$ 100 milhões para programas sociais. O venezuelano apoiou a proposta de Kirchner, de criação de um bônus com garantia da Venezuela, para financiar países da região. A cerimônia de entrada da Venezuela no Mercosul poderia ocorrer na reunião de cúpula do bloco, no dia 20, em Córdoba, na Argentina, mas, a pedido de Chávez, houve a reunião extraordinária de ontem, uma demonstração de prestígio ao público interno.
Lula, pela primeira vez, deu apoio explícito à pretensão da Venezuela de ocupar um dos assentos rotativos do Conselho de Segurança da ONU. Avesso a reuniões do gênero, Kirchner levou seus ministros de Economia, de Finanças e de Governo e estendeu a visita por um dia. Na cerimônia de adesão, os presidentes enfatizaram o compromisso com a democracia e a diversidade, em resposta ao temor de que as demandas políticas de Chávez dificultarão a ação internacional do Mercosul.
"Ninguém vai importar ou vender ideologia", disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, ao chegar em Caracas, comentou os atritos entre Chávez e os Estados Unidos. "Não vi conflito, vi uma guerra verbal entre os dois países, mas a Venezuela não deixou de vender nem um litro de petróleo aos Estados Unidos nem os EUA deixaram de comprar", disse. "Não é uma questão de domar Chávez, mas conviver com as diferenças", resumiu o presidente do Conselho de Representantes do Mercosul, o argentino Carlos Chacho Álvarez.
A adesão da Venezuela abre progressivamente, até 2012, aos países do Mercosul, um mercado de 30 milhões de pessoas com um PIB de aproximadamente US$ 120 bilhões e as maiores reservas de petróleo das Américas e de gás do continente sul-americano.
"A economia venezuelana é muito ligada à estrutura produtiva da Colômbia e os empresários, sem informações sobre o acordo, não sabem o que acontecerá com seus fornecedores e clientes", disse o presidente da Câmara de Comércio Venezuela-Brasil, Fernando Portela. "O máximo da flexibilidade concedido no acordo foi um prazo adicional de dois anos para liberar o comércio para os produtos sensíveis", queixou-se o diretor da Confederação das Indústrias da Venezuela, Silvano Gelleni que representa pequenas e médias empresas. "O produtor venezuelano tem custos 50% superiores ao brasileiro na pecuária, não vai sobrar bezerro vivo no país", alarma-se. Os maiores afetados serão os setores de petroquímica, autopeças e alimentos, afirma. (SL)