Título: Raízen reduz em 20% meta de expansão canavieira
Autor: Batista ,Fabiana
Fonte: Valor Econômico, 12/12/2011, Agronegócios, p. B12

A Raízen, joint venture formada pela gigante Cosan e pela anglo-holandesa Shell, revisou para baixo seus planos de crescimento em cana-de-açúcar para os próximos cinco anos. O ambiente, ainda inseguro para investimentos em novas usinas, fez com que a empresa reduzisse em 20% sua previsão de crescimento até 2015/16.

Com capacidade industrial para moer 64,5 milhões de toneladas de cana, a empresa tinha previsto avançar para 100 milhões de toneladas até 2015/16. A revisão tirou da meta 20 milhões de toneladas e, portanto, agora a companhia acredita que vai atingir moagem de 80 milhões de toneladas nos próximos cinco anos. Segundo estimativas de mercado, o corte de investimentos deve atingir cerca de US$ 2 bilhões - considerando um aporte de US$ 100 por tonelada de cana de capacidade instalada.

O vice-presidente de Açúcar e Etanol da Raízen, Pedro Mizutani, afirma que a revisão da meta faz com que a execução do plano de crescimento seja mais realista. Isso porque, somente com ampliação das usinas que já detém, a empresa consegue avançar da atual capacidade de 64,5 milhões para 71,5 milhões de toneladas. "Para atingir o restante, ou seja, 8,5 milhões de toneladas, faremos uma combinação de greenfield (construção de unidades novas) e de aquisição", completa.

Para o executivo, a compra de usinas depende de oportunidades e pode ser que elas surjam já em 2012. "Tudo vai depender do desfecho desta crise [na Europa]. Se o crédito escassear, o ano que vem tende a ser muito difícil para muitos grupos. O resultado pode ser uma maior oferta de usinas à venda", antevê Mizutani.

Ele pondera, no entanto, que nem todas as unidades à venda significam oportunidades. "Algumas se tornam simplesmente "incompráveis", pois dívidas e necessidade de investimentos para elevar o padrão ambiental e social delas inviabilizam a compra".

Se a estratégia para aumentar a oferta for por meio da construção de novas plantas, a Raízen tem na "manga" projetos de cinco unidades com licenças de construção aprovadas. Dois desses projetos estão localizados em Goiás (Paraúna e Montividiu), um em Minas Gerais (região do Prata), um em São Paulo (Aliança) e outro em Mato Grosso do Sul (Naviraí) - este último ainda em fase de aprovação, segundo o executivo. "Precisamos ter mais clareza em como o governo está olhando para o setor e que incentivos deve conceder para a expansão da capacidade", diz.

Até lá, a empresa segue investindo em renovação e ampliação de canaviais, segundo o executivo. Assim como todo o Centro-Sul, a quebra na safra de cana aumentou ainda mais a distância entre a oferta da matéria-prima e a capacidade industrial instalada. No caso da Raízen, esse "gap" chegou este ano a 11,5 milhões de toneladas.

A empresa processou 53 milhões de toneladas de cana-de-açúcar neste ciclo, queda de 10% em relação ao estimado inicialmente (58 milhões de toneladas).

Por isso, a taxa de renovação de canaviais este ano foi de 22%, acima dos 17% recomendados. A ideia, diz Mizutani, é reduzir a idade dos canaviais, atualmente de 3,2 anos, para 2,8 anos. "Essa meta se aplica à cana própria, que nos atende em 50% do que moemos", informa o executivo.

Apesar de a passos mais lentos, os fornecedores de cana da companhia também estão investindo para ampliar a produção do campo. A ideia é rejuvenescer o canavial de 3,8 anos para três anos até 2014/15. "A musculatura financeira dos fornecedores é menor, sobretudo porque as exigências sociais e ambientais aumentaram", afirma Mizutani.

Por isso, diz ele, é possível que nos próximos anos a Raízen esteja com um pouco mais de cana própria do que tem atualmente. "Essa relação pode sair dos atuais 50% para 55% em cinco anos", planeja.

De qualquer forma, os investimentos feitos no campo até agora já devem se refletir na próxima temporada, a 2012/13. A Raízen espera ter uma oferta de cana 8% maior (entre cana própria e de fornecedores), o que significará uma moagem um pouco acima de 57 milhões de toneladas.

Nesta safra, a Raízen produziu 4 milhões de toneladas de açúcar e 1,9 bilhão de litros de etanol.