Título: EIF planeja importar locomotivas novas da China a partir de 2008
Autor: Natalia Gómez
Fonte: Valor Econômico, 05/07/2006, Empresas &, p. B1

A alta nos preços das locomotivas americanas de segunda mão, que têm sido as preferidas das ferrovias nacionais desde a privatização de setor, há dez anos, cria uma nova alternativa de compra para as concessionárias, que já começam a sondar oportunidades. A paulista EIF, especializada em manutenção de locomotivas, traça planos para viabilizar a importação de locomotivas novas da China.

O objetivo é retomar a montagem das máquinas no país, desativada há quase dez anos, com peças chinesas e nacionais. A EIF garante que firmou acordo com a estatal chinesa China Northern Railway (CNR), com sede em Pequim, que produz 400 máquinas por ano.

As primeiras locomotivas chinesas devem chegar ao Brasil daqui a um ano e meio. Inicialmente, a EIF vai alugar as máquinas para as concessionárias e ficará responsável pela manutenção e assistência técnica. "O aluguel será uma estratégia para vencer a resistência dos executivos em relação ao produto chinês", explica o sócio e diretor da EIF, Carlos Braconi. Outra vantagem do aluguel, comum no mercado de vagões mas ainda inédito para locomotivas, será a possibilidade de reduzir os investimentos necessários para as concessionárias ampliarem suas frotas.

Segundo João Gemma, diretor e sócio da EIF, todas as concessionárias fizeram pedidos de orçamento para locomotivas chinesas e a primeira proposta será definida dentro de dois meses. Ele afirma que as máquinas chinesas são até 30% mais baratas que as americanas.

Para os sócios, este é um bom momento para trazer máquinas novas para o Brasil, porque o nível de receita das concessionárias está mais elevado e a carteira de clientes também cresceu em comparação há dez anos atrás, antes da privatização do setor ferroviário. "As empresas estão em busca de mais eficiência, ao contrário dos primeiros anos, quando o foco era investir em trilhos e reformar as locomotivas", diz Gemma.

A partir de 2010, os planos da EIF são mais ambiciosos. A idéia é produzir truques (componente semelhante ao chassi), cabines e capotas no Brasil, importar o restante da China e fazer a montagem localmente. Segundo Braconi, é provável que a fábrica, se viabilizada, seja instalada próxima da atual unidade da empresa, em Campinas (SP).

Esta não é a primeira iniciativa para retomar a produção de locomotivas no país. Em agosto do ano passado, a General Electric (GE) afirmou ao Valor que poderia reativar a fabricação de máquinas em porte exigidos pelas ferrovias no Brasil - interrompida nos anos 90, antes da privatização do setor ferroviário, quando os investimentos eram escassos - por conta do aquecimento do setor de transporte ferroviário, puxado pelas exportações de bens do país. Porém, a companhia americana punha como condição a existência de contratos de longo prazo de 70 a 100 locomotivas por ano, o que até o momento não se concretizou.

Outro entrave além da demanda são as elevadas alíquotas para a importação de peças e componentes, que se enquadram no sistema automotivo, com percentuais que variam de 15% a 20%, segundo o presidente da MRS Logística, Júlio Fontana Neto. "Uma locomotiva montada no Brasil seria 20% mais cara do que uma nova importada da GE nos Estados Unidos", afirma.

Uma locomotiva nova custa US$ 2 milhões a US$ 2,5 milhões, enquanto uma locomotiva americana usada, após a revisão, custava cerca de US$ 500 mil colocada no Brasil até meados do ano passado. No entanto, a demanda de outros países pelo produto americano duplicou os preços.

Segundo Fontana, o setor está pleiteando há anos junto ao Ministério de Desenvolvimento a redução das taxas para permitir a montagem no país, sem sucesso. "Os únicos países do mundo que fabricam locomotivas são a China e os Estados Unidos. As empresas precisariam de um estímulo para produzir no Brasil", afirma. A empresa começará a receber em setembro uma encomenda de 50 locomotivas novas da GE, que custaram US$ 100 milhões.

A Vale do Rio Doce, que opera Estrada de Ferro Vitória a Minas, a de Carajás e a FCA, importou 26 locomotivas novas dos Estados Unidos este ano e está à espera de mais duas. Assim como a Vale, a ALL não deu entrevista, mas afirmou por meio de sua assessoria de imprensa que importa máquinas usadas dos Estados Unidos e ainda não tem outros planos.