Título: China sinaliza medidas para estimular a economia
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Fonte: Valor Econômico, 27/10/2011, Internacional, p. A11
O governo chinês sinalizou que a política econômica do país poderá sofrer "ajustes suaves" conforme necessário e que estuda a adoção de "políticas de estímulo" para pequenas empresas. A mudança de rumo, que sugere que Pequim pode estar temendo um "pouso forçado" da sua economia, animou os mercados mundiais.
Em declaração divulgada no site do governo, durante uma visita a Tianjin, no nordeste do país, o primeiro-ministro, Wen Jiabao, disse que as autoridades farão ajustes "na hora adequada e no grau apropriado" e que manterão crescimento "razoável" na oferta de crédito. Em seguida, o governo também anunciou que o Ministério da Indústria e da Tecnologia da Informação, além de outras agências estatais, irão se empenhar para ajudar as pequenas empresas que estão enfrentando dificuldades.
Xiao Chunquan, diretor-geral do departamento de monitoração do Ministério da Indústria, admitiu que o ritmo da expansão da produção industrial pode cair neste trimestre e no ano que vem. Xiao apontou como causas a crise da dívida soberana que atinge países da zona do euro, o elevado desemprego nas nações desenvolvidas, o preço em alta da energia e a alta nos custos trabalhistas (o salário mínimo subiu em média 21,7% nos últimos 12 meses até setembro, segundo pesquisa que inclui 21 das 31 províncias chinesas).
Segundo Xiao, o governo pode fixar uma meta de expansão industrial de 11% para 2012, a mesma deste ano. De janeiro a setembro, houve crescimento de 14,2%.
A queda anunciada ontem no volume das exportações de Hong Kong, a primeira desde 2009, ilustra o risco de que o crescimento da China possa ser seriamente afetado pela freada na demanda global, num momento em que europeus estão afundados na crise da dívida e os EUA lutam para espantar uma recessão. O Produto Interno Bruto (PIB) chinês teve uma alta de 9,1% no terceiro trimestre, em relação aos 12 meses anteriores - a menor marca em dois anos. A fala de Wen alimenta a especulação de que o governo irá em breve relaxar as restrições à concessão de crédito.
Para Yao Wei, economista do Société Générale, a declaração de Wen "é a primeira que explicitamente sinaliza mudança de política". Segundo Yao, "mais relaxamento está logo aí". O economista Dong Tao, do Credit Suisse, acredita que a China está pronta para fazer uma gradual redução nas exigências de reservas para bancos, permitindo mais empréstimos para pequenas empresas e projetos de infraestrutura que estão desesperados por financiamento. Segundo Shen Jianguang, da Mizuho Securities, os comentários do primeiro-ministro são um "reconhecimento de um crescente encolhimento de liquidez na economia".
A ampliação do crédito, no entanto, aumentará ainda mais o risco de calotes. Em relatório, a empresa de classificação de risco Moody"s já abordou a possibilidade de um rebaixamento dos bancos chineses, ressaltando que a dívida dos governos locais pode ser cerca de 3,5 trilhões de yuans (US$ 540 bilhões) maior do que os 10,7 trilhões estimados por Pequim.
Outra possibilidade é a redução dos juros. Wang Jin, analista da Guotai Junan, acha que o banco central, que aumentou cinco vezes a taxa referencial entre outubro e julho (quando foi a 6,5%), pode reduzi-la no segundo trimestre do ano que vem, após uma queda "significativa" da inflação - atualmente ao redor de 6%. "A China está fornecendo a maior parte do crescimento visível nos mercados emergentes e um sinal de que está no fim da elevação dos juros será um evento muito positivo", disse Rico Gomez, economista do Rizal Commercial Bank, de Manila. Ontem, o índice MSCI de ações de mercados emergentes subiu 0,7%.