Título: China vê 'tarifa excessiva' para carro no Brasil
Autor: Moreira,Assis
Fonte: Valor Econômico, 16/12/2011, Brasil, p. A6

O ministro de Comércio da China, Chen Deming, disse ontem que a decisão de novos investimentos chineses na indústria automotiva no Brasil será das empresas, baseada na análise do mercado e não uma decisão de governo, no que foi interpretado como uma maneira de sinalizar sua insatisfação com a situação do setor no país.

"Você não sabe que recentemente o Brasil levantou as tarifas para os carros?", acrescentou, depois de falar em "tarifas excessivas", e no que parecia se referir à elevação do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) em 30 pontos percentuais para os carros que tiverem menos de 65% de conteúdo nacional.

"Espero, porém, que na próxima vez você esteja dirigindo um carro chinês", completou o ministro na resposta ao Valor, ontem em Genebra, à margem da conferência ministerial promovida pela Organização Mundial do Comércio (OMC).

Em Genebra, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, considerou quase como certo que novos construtores chineses vão se instalar no Brasil, atraídos pela evolução do mercado e que só estariam esperando as regras do novo regime automotivo que vigorará a partir de 2013.

Já outros conhecedores da questão duvidam que tão cedo os chineses ampliarão os investimentos na indústria automotiva brasileira, diante do aborrecimento demonstrado com a alta do IPI no Brasil, que atinge essencialmente os carros importados da China e da Coreia do Sul.

Ao mesmo tempo, o Brasil foi um dos país indiretamente atacados ontem, quando 23 membros da OMC, incluindo União Europeia, Estados Unidos, Japão, Canadá, México, Chile, Colômbia e Austrália, defenderam um pacto "antiprotecionismo".

Brasil, China, Índia e África do Sul, entre outros países, rechaçaram esse pacto porque acham que só propõe o congelamento das tarifas de importação, mas não dos subsídios e de outras medidas de proteção que os desenvolvidos adotam.

Ao mesmo tempo, Deming defendeu a aplicação de sobretaxas impostas por Pequim contra a entrada de carros grandes dos Estados Unidos em seu mercado, e que aumentou a tensão comercial entre os dois países.

Deming insistiu que é preciso se fazer distinção entre medidas protecionistas e instrumentos normais de defesa comercial. "Nossas medidas são consistentes com as regras da OMC", disse ele, usando o mesmo argumento de Pimentel para defender a alta do IPI no Brasil.

O ministro chinês admitiu que as exportações chinesas estão tendo cada vez mais dificuldades nos mercados desenvolvidos em plena deterioração econômica. As vendas para os Estados Unidos, União Europeia e Japão representavam 60% do total no ano passado e este ano só representam 45%.

Ou seja, os chineses estão buscando mais os mercados emergentes para seus produtos. Mas Deming reconheceu os riscos de fricção e afirmou que por isso mesmo Pequim tenta refrear a aceleração das exportações para esses países.