Título: Mais um parceiro
Autor: Fleck, Isabel
Fonte: Correio Braziliense, 15/09/2010, Mundo, p. 16

Depois de França, Estados Unidos e Itália, ontem foi a vez de oReino Unido fechar com o governo brasileiro umacordo de cooperação militar.No mesmo molde dos textos assinados com os outros dois países, o acordo ¿guarda-chuva¿ prevê a troca de experiência e a cooperação entre os países em questões relacionadas à defesa, incluindo a aquisição de produtos e serviços.

Para o governo britânico, o acordo, assinado na visita ao Brasil do ministro adjunto deDefesa, GeraldHowarth, poderia fazer pender a favor de Londres a compra de fragatas e navios patrulha para aMarinha do Brasil.De acordo com o jornal britânico Financial Times, o valor do negócio seria de US$ 4,475 bilhões, quase R$ 8 bilhões.

Diferentemente da compra de caças para a Força AéreaBrasileira (FAB), aMarinha não abriu uma concorrência para definir a compra de até 30 embarcações, entre fragatas e patrulhas. Até agora, o governojá recebeu propostasdaFrança e da Itália, no marco dos acordos de defesa fechados. A oferta francesa, contudo, foi considerada muito cara pelo governo brasileiro, que parece ter se interessado bastante pela oferta britânica.

De acordo com o Programa de Reaparelhamento daMarinha (PRM), de agosto de 2009, a força precisa de 18 fragatas para substituir as nove que possui hoje, todas de fabricação britânica. Elas têm a finalidade de escoltar navios maiores, como os porta-aviões. Emrelação aos navios-patrulha, aMarinha estima precisar de até 12 unidades, com capacidade para 1,8 mil toneladas¿o Brasil não tem hoje embarcações dessa classe, fundamentais para a segurança das jazidas petrolíferas na camada do pré-sal. Os valores estimados inicialmente pelo governo eram de 450 milhões de euros (cerca de R$ 995 milhões) para cada fragata e R$ 230 milhões para cada navio-patrulha.

A oferta britânica, que envolveria a princípio a aquisição de seis patrulhas e cinco ou seis fragatas Tipo 26 (nome provisório da embarcação), produzidas pela gigante britânica BAE Systems, sairia por R$ 8 bilhões¿valor aproximado ao orçado pelo governo brasileiro. Esse preço, no entanto, é para a produção das embarcações no Reino Unido. Segundo o Financial Times, o valor tende a cair se o Brasil optar pela produção no próprio país, o que já é uma das intenções do governo para desenvolver a indústria militar naval (leia abaixo).

A oferta da BAE Systems foi entregue à Marinha pelo diretor da empresa para o Ocidente, Dean McCumiskey, que acompanha Howarth em visita ao Rio de Janeiro e Brasília¿a delegação britânica chega hoje à capital.

Desvinculado OMinistério da Defesa confirmou o acordo com o governo britânico, assinado porHowarth e pelo almirante-de-esquadra Julio Soares deMoura Neto, representando o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que está em viagem oficial à Europa. O ministério fez questão de destacar que o texto ¿não está vinculado a qualquer negociação comercial específica entre as duas nações¿, em referência à associação feita pelo Financial Times com a compra das fragatas.

¿(O acordo) tem por base a vontade mútua de desenvolver a cooperação em longo prazo na área de defesa, envolvendo parcerias industriais, transferência de tecnologia, educação e treinamento, entre outros (itens), sempre que houver mútuo interesse¿, afirma o comunicado.

Otexto, no entanto, inclui ¿parcerias em aquisição de produtos e serviços de defesa¿.

SegundoHowarth, a intenção é fortalecer as relações bilaterais, ¿que sempre foramfortes¿. Reino Unido e Brasil têm procurado estreitar as ligações com vistas à troca de experiência para as próximas edições dos Jogos Olímpicos (2012 em Londres e 2016 no Rio) e da Copa do Mundo (2014 no Brasil).De acordo com oMinistério daDefesa,emsua passagem pela República Tcheca e pelaUcrânia Jobimtambémassinou acordos semelhantescomos dois países.