Título: PT e PSDB montam estratégia para grotões
Autor: Raquel Ulhôa
Fonte: Valor Econômico, 31/07/2006, Política, p. A10

No esforço de levar a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a todos os municípios do país, o PT pretende incentivar moradores de pequenas cidades, simpatizantes da candidatura, a transformar suas casas em comitês populares de apoio à reeleição. O partido encomendou à equipe de marketing a confecção de material de propaganda eleitoral específico para o interior, que ainda será distribuído.

Se a estratégia der certo, em poucos dias algumas residências de cidades como Capitão Enéas (norte de Minas Gerais), com menos de 10 mil habitantes, e Anhangüera (Goiás), com pouco mais de mil eleitores, exibirão em seus muros faixas do tipo: "Essa família apóia Lula" ou "Aqui tem um comitê da campanha do presidente Lula".

"Tradicionalmente, o PT era voltado para São Paulo e grandes centros urbanos, mas virou um partido dos grotões. Em 2002, o partido teve uma vitória enorme no interior. Queremos repetir o show pelos grotões", afirmou o secretário nacional de organização do partido, Romênio Pereira, destacado pela direção nacional para cuidar da estratégia da campanha de Lula nos municípios com até 30 mil eleitores.

O principal adversário de Lula, o ex-governador Geraldo Alckmin, candidato da coligação PSDB-PFL, não montou estratégia eleitoral baseada no tamanho dos municípios. A decisão foi relacionar 80 cidades com lideranças políticas influentes e com sede de emissoras de rádio e televisão - pólos irradiadores de mídia - para concentrar as principais atividades eleitorais e viagens do candidato.

"Qualquer atividade eleitoral realizada nesses locais é irradiada para uma região bem maior. Declarações do candidato podem ser ouvidas por um grande número de eleitores", explicou o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), coordenador da campanha de Alckmin.

De acordo com ele, a coligação planeja montar comitês de Alckmin nas capitais dos Estados do Nordeste, região em que é maior a desvantagem do tucano em relação a Lula. O do Recife deverá ser inaugurado na próxima semana. Nos demais Estados, a campanha eleitoral dos candidatos de partidos aliados a governador, senador e deputado fica encarregada pela difusão da candidatura nacional.

Segundo Guerra, que já admitiu dificuldades de arrecadação de recursos, o material de propaganda começará a ser distribuído na próxima semana.

O secretário de organização do PT lembra que as campanhas presidenciais costumam concentrar suas atividades nas cidades com mais de 100 a 150 mil eleitores. Nas pequenas, a campanha limita-se a visitas eventuais dos candidatos ou pega carona nas candidaturas a deputado e senador.

Pereira pondera que, numa disputa acirrada, o capital eleitoral das pequenas cidades não pode ser desprezado. Dos 5.664 municípios do país, mais de 4.900 têm até 30 mil eleitores, que representam aproximadamente 35% do eleitorado brasileiro.

"Estou mais para Gino e Geno, Teodoro e Sampaio, do que Caetano e Gil. É o PT mais rural. Trabalho para que a campanha do presidente Lula chegue a todos os municípios. Queremos um link direto da cúpula nacional com as cidades, montando comitês populares, distribuindo material de propaganda e promovendo atividades como caravanas e eventos culturais", disse.

Para desenvolver o trabalho, o PT dividiu o país em 250 micro-regiões, cada uma reunindo de 20 a 25 municípios. Para cada micro-região, será designado um coordenador, que fará a ponte com a campanha nacional. Diretórios municipais, candidatos a cargos proporcionais, lideranças locais e simpatizantes estão sendo mobilizados.

O esforço é tentar montar pelo menos um comitê de Lula a cada mil habitantes - de católicos, evangélicos, mulheres, pequenos produtores rurais, trabalhadores ou outros grupos. O material de marketing eleitoral está prestes a chegar aos Estados, de acordo com o secretário de organização.

Pereira acredita em custo baixo, por causa da estrutura do PT no país. Em 2002, o partido não tinha representação em 2.500 municípios. Hoje, apenas 250 cidades no país continuam sem diretório local do partido. A direção nacional instalou computadores em mais de cinco mil municípios.

Além disso, apesar da crise que atingiu o partido e a equipe de Lula a partir do escândalo do mensalão, os petistas apostam na disciplina da militância. "Para garantir a vitória do presidente Lula, o que se fala em Brasília o companheiro cumpre lá no sertão", afirmou o dirigente nacional do partido.