Título: Rússia e Venezuela fazem parceria no setor de gás
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Fonte: Valor Econômico, 31/07/2006, Internacional, p. A11

A Venezuela anunciou que a estatal russa Gazprom, a maior empresa de gás do mundo, vai ajudar os venezuelanos em um plano de longo prazo para o desenvolvimento de sua indústria de gás - os venezuelanos têm as maiores reservas de gás natural da América do Sul. Com isso, parece que a Rússia se tornou a "bola da vez" na ofensiva comercial que Venezuela faz em direção aos Bric (iniciais de Brasil, Rússia, Índia e China, países emergentes que o mercado espera que cresçam a taxas elevadas nos próximos anos).

A parceria no setor de gás emerge após Caracas divulgar que os acordos de compras de armas que fez em Moscou podem passar de US$ 3 bilhões - além de 24 caças Su-30 e 53, os negócios envolvem mísseis, barcos de patrulha e até mesmo a possibilidade de comprar um submarino.

A estatal venezuelana PDVSA disse que ela e a Gazprom vão criar "um plano de desenvolvimento do setor de gás para os próximos 50 anos, uma estratégia que inclui o desenvolvimento do mercado interno assim como do processo de interconexão regional", disse o site da PDVSA. A Rússia é o maior produtor de gás do mundo; a Venezuela, o oitavo.

O acordo foi anunciado quinta-feira por autoridades dos dois países um dia depois do encontro entre os presidentes da Venezuela e Rússia, Hugo Chávez e Vladimir Putin, em Moscou.

Chávez afirmou que a Gazprom vai ajudar ainda na construção do megaprojeto de um gasoduto que cortará a América do Sul. Venezuela, Argentina e Brasil se dizem os mais entusiastas em relação ao projeto, que é entretanto combatido por muitos especialistas do setor.

Além da Rússia, Chávez tem se aproximado de outro Bric, a China, para quem eleva ano a ano suas vendas de petróleo. Em 2004, eram 14 mil barris por dia. Em 2005, 80 mil. "Até o fim deste ano, estaremos mandando 300 mil barris por dia para a China", declarou Chávez, em junho. Em maio a PDVSA já havia anunciado que pretende comprar 18 petroleiros da China ao preço de US$ 1,3 bilhão.

Entre os Bric, a Índia é o único que não ganhou tanto destaque na estratégia diplomática venezuelana. Já os laços com o Brasil são ressaltados ultimamente com o anúncio de investimentos da PDVSA em uma refinaria de petróleo a ser erguida em Pernambuco e pelo projeto comum do gasoduto da América do Sul. Desde o início de julho, os dois países ficaram mais próximos, com a formalização da entrada de Caracas no Mercosul.

Nos últimos anos, Chávez se transformou num crítico em relação às políticas dos EUA, que chama de "império" e acusa de tramar a sua derrubada - o que os americanos dizem ser uma acusação absurda. Ele diz que quer buscar uma "multipolaridade mundial" para contrabalançar Washington.