Título: Argentina mantém crescimento forte no 3º trimestre
Autor: Felício,César
Fonte: Valor Econômico, 16/12/2011, Internacional, p. A13

A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, aproveitou ontem uma cerimônia em uma fábrica da Toyota para antecipar que o Indec, instituto oficial de estatísticas, anunciará hoje o crescimento de 9,3% do PIB no terceiro trimestre, em comparação com o mesmo período do ano passado. O dado supera em 0,7 ponto percentual o resultado do trimestre anterior e deve possibilitar que o governo feche 2011 com um crescimento da ordem de 9,1% em relação a 2010.

A presidente atribuiu a alta no PIB ao setor de serviços, que teria crescido 9,9%, indicando o aquecimento do consumo. "É um sinal do crescimento do poder aquisitivo, que permitiu a geração de demandas e provocou um círculo virtuoso na economia", disse Cristina. O aquecimento da economia é evidenciado pela própria expansão do setor automotivo, que deve fechar o ano com uma produção recorde de 840 mil unidades, 20% acima do ano passado, mas em razão da distorção do cálculo da inflação oficial, sob suspeita desde 2007, a maioria dos consultores independentes manifestam ceticismo sobre a dimensão do crescimento do país.

A avaliação de duas consultorias, a Econométrica e a Analytica, é que a expansão da economia deverá ficar em 7%, mesmo percentual de 2010, caso seja usado como deflator uma inflação de em torno de 22% para este ano. Para o próximo ano, em função do desaquecimento do principal cliente externo, o Brasil, e da soja, as previsões são de desaceleração. "A expansão deverá ficar em torno de 2%", opinou Ramiro Castiñera, economista da consultoria Econométrica.

A menção ao crescimento do poder aquisitivo foi citada pela presidente ao mesmo tempo em que um comício promovido pelo principal líder sindical do país, Hugo Moyano, presidente da CGT que tenta se reeleger em julho. A disputa no meio sindical é o maior obstáculo para Cristina conseguir que os reajustes das principais categorias salariais em 2011 não ultrapassem 18%, meta informal estabelecida pelo governo. Moyano reuniu milhares de caminhoneiros em um estádio e, do palanque, qualificou o Partido Justicialista, que abriga todas as correntes que apoiam o governo e pequenos minorias opositoras de "casca vazia", sinalizando uma ruptura.

Moyano tornou-se o principal foco de resistência à hegemonia kirchnerista depois da reeleição da presidente em outubro. No Congresso, o governo demonstrou ontem a sua retomada do controle ao conseguir aprovar na Câmara dos Deputados o projeto que declara de utilidade pública a produção de papel imprensa no país. A proposta, que será votada no Senado e sancionada ainda neste ano, poderá afetar a participação dos grupos de mídia Clarín e La Nación no capital da empresa Papel Prensa, que monopoliza a fabricação do produto e em que são sócios do governo federal desde 1976.

Há três anos, Cristina e os dois grupos estão em conflito. As empresas de comunicação alegaram que a aprovação do projeto poderá comprometer o acesso à matéria-prima aos opositores do governo no futuro.