Título: China eleva preços e deixa o Natal mais caro nos EUA
Autor: Lahart ,Justin
Fonte: Valor Econômico, 16/12/2011, Internacional, p. A13

Uma das marcas do Natal deste ano nos EUA: preços mais altos, por cortesia da China.

Depois de décadas como principal fornecedor de produtos baratos para os EUA, a China está passando por uma mudança profunda. O rápido desenvolvimento econômico e a queda na oferta de jovens trabalhadores migrantes estão elevando os custos da mão de obra. Considerando ainda a alta no preço de matérias-primas, causado em boa parte pela demanda chinesa, e a valorização do yuan, produtos "made in China" não são mais as pechinchas de antes.

No ano passado, os custos trabalhistas dos fornecedores chineses da rede Michaels Stores subiram de 15% a 20%, diz John Menzer, diretor-presidente da varejista de materiais para artes e artesanato. Ele diz que a empresa passou boa parte do ano buscando formas de compensar esses aumentos, como agrupar produtos de diferentes fornecedores em um único contêiner para reduzir os custos do frete.

Mesmo assim, a Michaels teve que subir os preços de alguns itens este ano, incluindo árvores de Natal artificiais. Menzer prevê que sua batalha contra o aumento dos custos chineses deve continuar. "Nossos fornecedores estão muito nervosos com os custos trabalhistas", diz ele. "E teremos as mesmas pressões no próximo ano."

No mês passado, os preços das importações chinesas subiram 3,9%, em relação a ano atrás. É um índice igual ao de outubro e o maior aumento mensal em relação a um ano anterior desde 2008.

A China responde por cerca de 80% das importações de calçados dos EUA; os preços dos calçados importados subiram 6,1% em novembro ante o ano anterior. Cerca de 60% dos móveis importados vêm da China; o preço dos móveis importados também subiu 6,1%. Cerca de 80% das malas importadas vêm da China, e os preços aumentaram 8,3% em novembro.

Esses custos maiores estão entre as razões pelas quais os preços aos consumidores subiram nos EUA este ano, apesar da economia permanecer fraca. Os economistas esperam que o relatório de inflação, que será divulgado hoje, mostre que, excluindo itens voláteis, como alimentos e energia, os preços tenham subido 2,1% em novembro, em relação ao ano anterior, replicando a alta de outubro.

É uma variação relativamente baixa, numa perspectiva histórica, e não deverá dificultar os esforços do Federal Reserve, o banco central do país, para estimular a economia. Mas marca o maior ganho desde outubro de 2008.

Nos últimos dois anos, o custo dos móveis que a Hooker Furniture compra da China subiram em ritmo constante, diz Paul Toms, diretor-presidente da empresa. Em setembro, a Hooker elevou preços em dois terços da linha de produtos - tudo o que não foi introduzido no ano anterior - em 5%.

Com os fornecedores chineses elevando salários para segurar os empregados, Toms suspeita que haverá mais reajustes de preços no futuro. "Estamos em um setor intensivo em mão de obra, e não é um dos mais atraentes para se trabalhar", diz ele. "Acho que nossos fornecedores estão lidando com aumentos de custos trabalhistas na faixa de 20% a 30%."

Segundo o governo chinês, 21 províncias e municípios subiram o salário mínimo anual em outubro, em 22% em média. Autoridades de Shenzhen, o coração industrial da China, no sul do país, disseram no mês passado que pretendiam elevar o salário mínimo na cidade em 15% em janeiro, na esperança de atrair mais trabalhadores.

Os próximos meses podem trazer algum alívio para os importadores nos EUA. Os preços das commodities caíram bastante, depois de terem atingido picos no segundo trimestre. Além disso, com a economia chinesa desacelerando, resultado de esforços anteriores para frear o crescimento, assim como da demanda vacilante na Europa, diminuiu a disposição das autoridades de permitir que a moeda se valorize em relação ao dólar.

Mas a crescente prosperidade da China, o aumento de oportunidades de trabalho no interior e a queda da população jovem estão colocando uma pressão de alta sobre os salários na indústria que pode ser difícil de conter.

Até cerca de dois meses atrás, a maior parte dos sapatos da Eugene Running, em sua grande maioria chineses, custava cerca de US$ 100. Mas, com o lançamento de novos modelos em outubro e novembro, a empresa também elevou os preços pela primeira vez desde 2007. "Todo mundo reajustou o preço de seus sapatos em US$ 5 ou US$ 10", diz Laura Coll, dona da loja. "A Mizuno elevou em US$ 15 o preço de todos os seus sapatos."

O aumento de salários na China não é coisa nova, diz Ethan Harris, economista do Bank of America-Merrill Lynch. A remuneração está subindo no país há anos. O que é diferente agora, diz ele, é que os custos trabalhistas atingiram um nível que os exportadores chineses não conseguem mais absorver facilmente, e estão repassando nos preços. Isso se aplica particularmente a itens que usam mão de obra intensiva, como os sapatos.

Em nota a clientes, no início do ano, Harris estimou que a mão de obra responde por quase a metade dos custos de exportação de um tênis feito na China. "Acho que isso os colocou contra a parede, e os repasses começam a ocorrer."

Essa foi a experiência da Big Agnes, que faz equipamentos para camping. "Nossos fornecedores estavam indo bem, absorvendo os custos e, de repente, estão assim", diz Bill Gamber, o proprietário. Ele não teme que seus rivais possam ter preços mais atraentes. Os fornecedores chineses dominam o setor e todo mundo sofre o aumento de custos. Mas ele está preocupado com a reação dos consumidores.