Título: Fome reduz,mas ainda é tragédia
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 15/09/2010, Mundo, p. 17

Quando você terminar de ler essa frase, uma criança terá morrido no mundo, vitimada pela fome. A estatística assombra umdocumento pontuado por algumas boas notícias. O relatório A nova figura da fome, divulgado ontem pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), revela que o número de famintos crônicos no planeta caiu pela primeira vez em 15 anos. Em 2009, cerca de 1,023 bilhão de pessoas enfrentavamo fenômeno. Com base em estimativas, em2010, serão 925 milhões sem ter o que comer. A redução de 9,6 pontos percentuais¿ ou 98 milhões de famintos¿ não se traduz em alívio para a FAO. ¿Comuma criança morrendo a cada seis segundos por causa de problemas relacionados à desnutrição, a fome permanece a maior tragédia e escândalo do mundo, algo absolutamente inaceitável¿, disse Jacques Diouf, diretorgeral da FAO. Ele alerta que o nível continuamente alto da fome mundial ¿torna extremamente difícil alcançar não apenas a primeira, mas todas asMetas de Desenvolvimento do Milênio (MDG, pela sigla em inglês)¿. A primeira MDG é erradicar a pobreza extrema e a fome.

Para tentar reverter a situação, a FAOlançou ontem a campanha ¿1 bilhão de famintos¿. ¿Trata-se de uma campanha de sensibilização, que pode ser muito eficiente emseguir com a pressão sobre a comunidade internacional para manter (e aumentar) seus compromissos pela redução da fome, por meio da promoção da participação popular¿, afirmou ao Correio o grego Kostas Stamoulis, diretor da Divisão de Desenvolvimento Agrícola e Econômico da FAO. Segundo ele, o combate à crise alimentar e à desnutrição passa pelo crescimento econômico conjugado a mecanismos de redistribuição, a fim de se reduzir as desigualdades.

¿Os programas de proteção social são fundamentais para resguardar os mais vulneráveis, e precisam estar aliados a umalto nível de investimentos em agricultura¿, sugere Kostas. ¿Apoiar os sistemas produtivos de pequenos agricultores deveria ser um pilar das políticas de investimentos rurais e agrícolas¿, acrescenta.

Estrutural A FAOconsidera que o fato de o número de desnutridos seguir aumentando¿mesmo em períodos de crescimento da economia e de preços baixos ¿ aponta que a fome é umproblema estrutural. ¿Histórias de sucesso existem na África, na Ásia e na América Latina¿, comemora Diouf, para quem tais experiências precisam ser replicadas. O relatório mostra que dois terços dos desnutridos vivem em apenas sete países ¿ Bangladesh, China, República Democrática do Congo, Etiópia, Índia, Indonésia e Paquistão.

A região com o maior número de pessoas famintas é a Ásia-Pacífico (578 milhões).Mas a maior proporção ainda atinge a África Subsaariana, com 30% (239 milhões).

O cumprimento da primeiraMeta de Desenvolvimento doMilênio já foi obtido porGuiana, Jamaica e Nicarágua. Segundo a FAO, o Brasil se aproxima dessa condição.