Título: Câmbio reduz em 34% os lucros das companhias abertas no segundo trimestre
Autor: Carolina Mandl
Fonte: Valor Econômico, 31/07/2006, Empresas, p. B1

O câmbio fez estragos nos balanços das companhias abertas no segundo trimestre de 2006. Levantamento feito pelo Valor Data com os resultados das 21 empresas que já divulgaram seus números mostra um lucro líquido 34,4% inferior na comparação com igual período do ano passado, mesmo com uma receita 5,9% maior.

Esse é um número preliminar, uma vez que o total das companhias abertas engloba mais de duas centenas de empresas. Mas dá uma dimensão de como a moeda afetou - e deve continuar impactando - os resultados.

O câmbio apareceu não apenas como um obstáculo na atividade das empresas, como vem fazendo há vários trimestres, principalmente no caso das exportadoras. Seu efeito afeta agora também o lado financeiro, cujo resultado negativo ficou 332,7% maior, segundo a análise do Valor Data.

Na operação das companhias, a valorização da moeda brasileira de 13,32% do segundo trimestre de 2005 para o mesmo período deste ano fez com que as exportadoras ganhassem menos reais com as vendas. Isso explica a queda da margem da atividade de 14,31% para 12,73%.

Do lado financeiro, empresas com dívidas em dólar, passaram a não mais ter uma receita contábil com a apreciação cambial. Quando o real se valoriza, passa-se a dever menos, o que gera esse ganho. Esse cálculo, porém, usa a variação da moeda ao longo do mesmo trimestre do ano. Como do fim de março para junho, o câmbio se manteve na média estável, não houve lucro. Era esse valor financeiro que vinha engordando os lucros nos últimos trimestres.

A Aracruz é um exemplo desse fenômeno. A receita líquida da fabricante de celulose subiu cerca de 14%, para R$ 923,3 milhões, mas seu lucro caiu pela metade, para R$ 227,9 milhões. Isso ocorreu, em grande parte, porque o resultado financeiro passou de um valor positivo de R$ 175,5 milhões para um prejuízo de R$ 134,1 milhões.

Apesar dos estragos do câmbio, no conjunto, as companhias ainda podem apresentar um lucro maior em relação ao segundo trimestre de 2005. Principalmente por causa de Petrobras, que ainda não divulgou seu resultado. Ela deve apresentar ganho com o aumento de preços do petróleo. O banco Santander prevê que o lucro dela pode até dobrar para R$ 10 bilhões.

" São alguns poucos casos que vão dominar o resultado geral " , afirma Marcos De Callis, chefe de análise da corretora Itaú. A instituição projeta um lucro 19% para as 47 empresas que acompanha.

O Santander prevê um resultado 7,7% maior na comparação com igual trimestre de 2005 para as 50 companhias analisadas. " A contínua apreciação do real é a chave para se entender os lucros " , diz em relatório Ricardo Carneiro, estrategista do Santander.

Em alguns casos, a elevação do preço das commodities também deve ajudar alguns resultados, como os de siderurgia.

Outra colaboração para a melhoria dos lucros vem das companhias ligadas ao mercado interno, como varejo e energia. " Com o aumento da renda, do emprego e do crédito, as vendas cresceram " , diz Marcello Milman, analista da BES Securities. Só o aumento de 16,7% no salário mínimo já levou os brasileiros às compras.

O Pão de Açúcar, que vinha com as vendas 4,6% negativas no primeiro trimestre, registrou um crescimento de 2,5% de abril a junho nas lojas que já existiam em 2005, por exemplo.

Ao longo do ano, o aquecimento do mercado interno pode ser justamente o fator que vai elevar os resultados. " Com o consumo melhorando, haverá um redirecionamento das exportações para a venda aos próprios brasileiros. Isso fará as margens subirem " , avalia Fábio Zagatti, analista de investimento da HSBC corretora.

Para De Callis, do Itaú, a partir deste terceiro trimestre, os efeitos da política de queda de juros se tornarão bastante perceptíveis.