Título: Gigantes do software na disputa pela 'inteligência'
Autor: André Borges
Fonte: Valor Econômico, 31/07/2006, Empresas, p. B2

A Oracle deu o seu recado ao anunciar, nos últimos dias, as cinco tecnologias que se tornaram prioridade para a empresa. Entre as eleitas pelo presidente mundial Larry Ellison, merecem atenção especial os chamados "sistemas para inteligência de negócios", um conjunto de programas que ajuda executivos a tomarem decisões estratégicas, a partir de relatórios gerados do emaranhado de dados de suas empresas. Embora as motivações de uma das maiores empresas de software do mundo estejam atreladas a compras recentes como a da americana Siebel, não pairam muitas dúvidas de que Ellison, para quem aquisições já se tornaram esporte favorito, irá promover novas fusões no setor.

A consolidação neste mercado tem o aval não apenas dos principais concorrentes da companhia - como IFS, SAP, SSA Global e, no Brasil, Datasul e Microsiga, que atuam no universo dos sistemas de gestão -, mas também dos próprios fornecedores especializados nos tais programas analíticos. "Consolidação nessa área é um fenômeno inevitável. O mercado de 'business intelligence' é promissor, mas não tem espaço para muitos fornecedores verticais", avalia Waldir Arevolo, diretor de pesquisas do Gartner.

No momento, a questão é quem compra quem. Do lado das gigantes dos softwares de gestão, basicamente dois motivos explicam tanto interesse nos sistemas de inteligência. O primeiro diz respeito à demanda. Pelo menos há três anos, institutos de pesquisa como Gartner e IDC apontam esses programas como uma das prioridades de investimento entre diretores de tecnologia. A segunda razão está relacionada ao posicionamento das gigantes de software. Encaradas como fornecedoras de sistemas transacionais - usados apenas em operações administrativas, como controle financeiro e de recursos humanos -, essas empresas absorveram uma série de funcionalidades tecnológicas ao longo do tempo, mas justamente pela própria robustez, deixaram escapar o viés analítico.

É nesse vácuo que empresas menores e mais ágeis - como Business Objects, Cognos, Hyperion, Microstrategy e SAS - ganharam espaço. Com a promessa de vender inteligência de negócios, abriram rapidamente um novo nicho de mercado que, agora, se torna o próximo alvo das gigantes do software.

O embate entre generalistas e especialistas se dá em um segmento que, segundo o instituto IDC, movimentou nada menos que US$ 5,7 bilhões no ano passado. O Brasil, que costuma responder por algo entre 50% e 60% da demanda na América Latina, contabilizou cerca de US$ 80 milhões. Os números inspiram, e já são suficientes para uma boa briga. "É preciso lembrar que nós, ligados diretamente à gestão, temos algo valioso nas mãos, que é o conhecimento sobre o dado do cliente e o seu significado", alega Wilson de Godoy, vice-presidente da holding Totvs, que controla a Microsiga. "Logo, ninguém melhor que nós para administrar esse material."

A Microsiga, que atualmente tem seus programas analíticos instalados em menos de 5% de seus 14 mil clientes, quer explorar a chance de ampliar suas ofertas sobre a base atual de usuários. "Muitas contas são pequenas, sem perfil para isso. Mas temos cerca de 1,5 mil clientes que poderiam investir em algum recurso analítico. Vamos nos concentrar nisso", afirma Godoy.

A mesma postura é adotada pela SAP. Se em todo o mundo a companhia costuma manter acordos com fornecedores especializados, no Brasil a competição tende a ser mais acirrada. "Por aqui é um pouco diferente. Temos parcerias com empresas de nicho, como Business Objects e Hyperion, mas é inegável que, em algum momento, também buscamos a base de usuários dessas empresas", afirma Meva Su Duran, diretora de produtos da SAP.

Com discurso vendedor, a companhia de origem alemã tenta pegar carona em atualizações de seus sistemas antigos, oferecendo um "diferencial" para o usuário. "Como estes sistemas de inteligência já são incorporados ao nosso produto, temos uma abordagem diferenciada", diz Meva, acrescentando que atualmente a companhia conta com cerca de 800 clientes de sistema de gestão, dos quais cerca de 200 usam algum recurso ligado aos sistemas de inteligência.

Quem também promete que não quer ficar fora da festa é a brasileira Datasul. Segundo o diretor geral da fabricante de sistemas de gestão, Jorge Steffens, a empresa desenvolveu uma série de programas para "extração de dados analíticos e construção de cenários". Com cerca de 2,3 mil clientes concentrados em seu software administrativo, a Datasul trabalha para ampliar sua base com sistemas estratégicos, hoje restritos a cerca de 160 contas.

Sem promessas mirabolantes, a companhia aposta na simplicidade. "Com o que criamos, conseguimos chegar ao usuário com ferramentas prontas. Isso simplifica a extração de dados." Mas é esse tipo de inteligência que o cliente procura? "Tudo depende de cada caso, mas estamos chegando lá", conclui.