Título: Preços caminham para níveis recordes
Autor: Patrícia Nakamura
Fonte: Valor Econômico, 31/07/2006, Empresas, p. B9

Os produtos siderúrgicos devem alcançar pico de preços nos próximos meses, contribuindo para engordar os resultados das usinas brasileiras no segundo semestre. De acordo com analistas ouvidos pelo Valor, as placas podem alcançar US$ 530 por tonelada a partir de setembro, cotação semelhante à de janeiro de 2005 - preço recorde para o produto.

"Diversas usinas paralisam temporariamente a produção ao longo do primeiro trimestre, fazendo os estoques declinarem no mundo todo. A China também vai manter um ritmo forte de consumo e continuou importando grandes volumes", afirmou Marcelo Aranha, analista da Fator Corretora.

Entre abril e junho, as placas foram negociadas pelas siderúrgicas brasileiras, na média, entre US$ 300 e US$ 330 a tonelada. Esse preço, aliado ao reaquecimento da demanda interna, deve fazer com que os balanços do segundo trimestre sejam sensivelmente melhores ante o período janeiro a março. Nesta semana Arcelor Brasil, Gerdau e Acesita vão apresentar seus resultados do segundo trimestre. Cia. Siderúrgica Nacional (CSN) e Usiminas devem fazer o mesmo no dia 10.

Entretanto, os resultados serão, em alguns casos, inferiores aos obtidos no segundo trimestre de 2005, principalmente entre os produtores de aços planos. Naquele período, as cifras ainda refletiam os aumentos recorde de preço, além de contarem com dólar mais valorizado em relação a este ano.

É o caso da Usiminas, cuja previsão dos analistas ouvidos pelo Valor aponta para um lucro líquido de R$ 574 milhões no segundo trimestre , bem abaixo do obtido em igual período de 2005 - R$ 811 milhões. Porém, a cifra é quase duas vezes maior em relação ao primeiro trimestre (R$ 344 milhões), devido a reajuste antecipado de preços e ao aumento das vendas domésticas. Dessa forma, a usina ficou menos exposta à valorização do real frente ao dólar e teve margens melhores. Aranha, da Fator, acredita em vendas ainda mais fortes para o mercado interno. "A empresa deve reportar ganhos crescentes até o fim do ano".

Caso semelhante tem a Arcelor Brasil, que se beneficiou da alta de preços das placas no segundo trimestre. Do primeiro para o segundo trimestre, o lucro previsto passa de R$ 321 milhões para R$ 446 milhões. Entretanto, há distorções ao fazer a comparação com igual período de 2005, quando o lucro pró-forma da empresa foi de R$ 920 milhões. Naquela época, a Arcelor Brasil ainda não estava formada.

A Acesita também deve mostrar números bem melhores em comparação ao primeiro trimestre, graças à venda de produtos mais elaborados, mas ainda longe dos resultados do segundo trimestre de 2005, quando obteve lucro de R$ 188 milhões. "Os números devem ser mais fortes já no terceiro trimestre", disse o analista do ABN Amro Real Corretora, Pedro Galdi.

Já a Gerdau, produtora de aços longos, teve resultados melhores tanto em relação ao mesmo período do ano passado como em comparação a janeiro a março. Segundo Galdi, a retomada do mercado da construção civil e as baixas taxas de financiamento beneficiaram o segmento de longos. O analista lembra ainda o bom desempenho da Ameristeel, subsidiária norte-americana, de abril a junho (aumento de 3% nas vendas).

No primeiro trimestre de 2006, as vendas consolidadas da Gerdau foram de R$ 5,6 bilhões e alcançaram R$ 5,8 bilhões no segundo, de acordo com a média das previsões dos especialistas. Fábio Cardoso, analista da Máxima Corretora, acredita que os aços longos obterão reajuste de preços da ordem de 5% no mercado interno no segundo semestre.

A paralisação do alto-forno 3 tornou mais difícil a previsão dos resultados da CSN. Segundo os especialistas, a empresa ainda não deixou claro se os impactos negativos recairão agora ou nos próximos trimestres.