Título: Aumenta participação de maior de 50 anos no mercado de trabalho
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 21/07/2006, Brasil, p. A2

O mercado de trabalho no Brasil está mais receptivo aos trabalhadores mais experientes. A faixa etária com mais de 50 anos foi a única que aumentou sua participação na população ocupada do país, nos últimos cinco anos. Em maio de 2006, os cinqüentões já respondiam por 18,1% da força de trabalho nas seis principais regiões metropolitanas pesquisadas pelo Pesquisa Mensal de Emprego (PME), ante 15,4% no mesmo mês de 2002. Em contrapartida, o mercado encolheu principalmente para os grupos de adolescentes e jovens entre 15 e 24 anos.

A presença dos maiores de 50 anos nos postos de trabalho aumentou 17,5% entre maio de 2006 e maio de 2002, numa trajetória contínua de crescimento, ano a ano. Os demais grupos etários, à exceção do maior contingente de ocupados, as pessoas entre 25 a 49 anos, que manteve certa estabilidade no período levantado, reduziram sua participação na ocupação. A faixa de trabalho infantil, de 10 a 14 anos, caiu 20%. A de adolescentes entre 15 a 17 declinou 21,7% e a dos jovens de 18 a 24, recuou 11,8%.

Para Maria Lúcia Vieira, analista econômica da PME, não necessariamente a faixa dos 50 anos ou mais cresceu ocupando o espaço dos jovens. Ela destacou vários fatores que vêm contribuindo para garantir ocupação aos trabalhadores de idade mais elevada no mercado de trabalho. Entre eles, o processo de envelhecimento da população, devido ao aumento de expectativa de vida e redução da taxa de natalidade. "Nessa nova realidade demográfica, esse grupo etário vem crescendo e é natural que permaneça mais tempo trabalhando", disse.

Ela citou ainda as reformas previdenciárias, que aumentaram a idade mínima para as pessoas se aposentarem. Além disso, a eliminação de limite de idade nos concursos públicos também colaborou na abertura de espaços para os mais velhos no mercado.

Na análise da especialista, a menor participação dos jovens de 18 a 24 anos no mercado de trabalho se deveu ao aumento da competição nessa faixa, exigindo mais instrução e estudo daqueles que começam a trabalhar, como apontam outros indicadores do IBGE medidos pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) e o Censo. "Os jovens têm tido alguma dificuldade de entrar no mercado de trabalho, por ser mais complexo e exigir mais instrução e conhecimento para as pessoas nele se inserirem." Devido a essas dificuldades, o IBGE concluiu que o nível de escolaridade vem crescendo neste grupo etário.

No perfil dos cinqüentões, 40,3% têm 11 anos ou mais de estudos, mas também é grande o percentual (46%) dos que não têm nenhuma instrução. "Essa faixa etária tem de tudo, em termos profissionais, abrigando desde consultores a pedreiros", informou Maria Lúcia. Entre os maiores de 50 anos predominam os trabalhadores por conta própria (31%). Apenas 10,4% estão colocados no setor privado com carteira assinada. Militares e funcionários públicos abrigam 23,3% do grupo de ocupados. Cerca de 33% são empregadores.

Chama a atenção nessa estatística o fato desse grupo etário receber, em média, 36,3% a mais que o total de ocupados. Isso ocorre porque a renda desse contingente sobe devido aos empregadores, militares e funcionários públicos, que ganham salários mais altos.

Por outro lado, esse grupo é engrossado também pelos ocupados de pouca instrução e menor renda, que precisam trabalhar mais. "Mesmo depois de aposentados, têm que ter um bico para sobreviver, pois 70% desses trabalhadores de mais idade são responsáveis pelo sustento do domicílio", revelou a analista econômica da PME.

Outro dado interessante é que o total de mulheres desta idade no mercado de trabalho vem crescendo. Em 2002, para cada 100 homens de mais de 50 anos no mercado de trabalho, havia 69 mulheres. Em 2006, a relação subiu de 100 por 72.

Todas as seis regiões metropolitanas investigadas tiveram aumento da participação dessas pessoas no seu mercado de trabalho. O Rio foi a região que apresentou maior participação de ocupados, com mais de 50 anos: 22,3% em maio deste ano. A segunda maior taxa ficou com São Paulo, 16,6%.