Título: Patrimônio que não se justifica
Autor: Edson Luiz
Fonte: Correio Braziliense, 11/09/2010, Política, p. 11

Vários dos suspeitos de envolvimento no desvio de recursos no Amapá declararam ao TSE bens em valores pouco prováveis

Políticos suspeitos de envolvimento com a organização criminosa que desviou R$ 300 milhões do governo do Amapá declararam à Justiça Eleitoral patrimônio incompátivel com as investigações. O ex-governador e candidato ao Senado Waldez Góes (PDT) informou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) bens no valor de R$ 157.908,31. Consta no registro da candidatura pouco mais de R$ 150 mil em aplicações bancárias, uma casa de R$ 12,6 mil e R$ 83,78 na caderneta de poupança. Em 2006, o pedetista declarou patrimônio de R$ 13.520, composto por uma Saveiro ano 1996 de R$ 6,4 mil, uma casa avaliada em R$ 3,1 mil, três linhas telefônicas e um terreno de R$ 1.674. A variação patrimonial do candidato é de 1067%.

Waldez conta com o apoio do presidente Lula nestas eleições. Anteontem o presidente apareceu no programa eleitoral pedindo votos para o candidato ao Senado: Aqui no Amapá, vote em Waldez Góes, que está com Dilma. Esse não é o único padrinho do pedetista. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), elogiou o ex-governador em discurso no Plenário. Sarney afirmou que Waldez foi capaz de unir forças políticas por seu temperamento e espírito público e ainda ressaltou a gestão pacífica.

Com a saída de Waldez do governo para concorrer ao Senado, o vice Pedro Paulo Dias (PP) assumiu o cargo. Candidato à reeleição, ele declarou R$ 1,9 milhão à Justiça Eleitoral, sendo que mais da metade desse valor (R$ 1,1 mi) é referente a 2.219 cabeças de gado. O valor do patrimônio declarado de Pedro Paulo não sofreu grandes alterações. Em 2006, era de R$ 2 milhões. Entretanto, as participações societárias não estão mais presentes na atual declaração. O governador, que em 2006 era dono de um Palio, não registrou veículos em seu nome.

Parlamento

Na Assembleia Legislativa do Amapá, a Polícia Federal investiga o envolvimento de dois deputados estaduais. O líder do governo na Casa, Edinho Duarte (PMDB), que chegou a ser preso ontem por porte ilegal de arma, declarou R$ 463.986 ao TSE. O parlamentar tem mais de R$ 350 mil em carros. É proprietário de uma kombi, uma caminhonete, um new beetle e dois consórcios de veículos. Em 2006, o patrimônio do deputado era de R$ 375.322, grande parte também referente a carros.

O deputado Dalto Martins (PMDB) teve um crescimento patrimonial de 547% nos últimos quatro anos. Em 2006, registrou um investimento financeiro de R$ 120 mil. Este ano, o parlamentar informou R$ 777.889. A maior parte (R$ 530 mil) é referente a empréstimo. O médico possui ainda uma casa de R$ 50 mil e um carro Honda de R$ 110 mil. Os dois deputados são candidatos à reeleição. A reportagem não conseguiu localizar os parlamentares.

SEGUNDO NA HISTÓRIA

» Pedro Paulo Dias é o segundo governador da história do país a ser preso no exercício do cargo. O primeiro foi o ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda, detido em 11 de fevereiro deste ano, acusado de participar da tentativa de suborno de uma das testemunhas do inquérito aberto durante a operação da Polícia Federal batizada de Caixa de Pandora, que investigava esquemas de corrupção no governo da capital federal. Ele permaneceu na cadeia até 12 de abril de 2010.

O número

2.219

Número de cabeças de gado declaradas por Pedro Paulo Dias