Título: Dilma apoia-se em aprovação popular para conter partidos
Autor: Exman, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 19/12/2011, Política, p. A10
Adotando um discurso otimista em relação às perspectivas de crescimento da economia doméstica e respaldada por altos índices de aprovação, a presidente Dilma Rousseff enviou na sexta-feira um recado claro ao partidos que garantem sustentação ao seu governo no Congresso: não aceitará ficar refém da base aliada.
Dilma demonstrou que suas principais preocupações são a crise financeira global e seus potenciais impactos sobre a economia doméstica. A fixação da presidente tem a sua razão de ser: mesmo com as diversas denúncias de corrupção que atingiram seu governo, a melhora nas condições de vida dos brasileiros tem impulsionado a avaliação de sua administração para níveis recordes.
Com esse capital político, ela ficou à vontade para tentar enquadrar os partidos que integram a sua coalizão. Após negar que as legendas tiveram ingerência em seu governo nesses últimos 12 meses, a presidente assegurou que sua gestão terá tolerância zero com malfeitos.
"Eu vou, cada vez mais, exigir que os critérios de governança internos do governo sejam critérios internos do governo, que nenhum partido político interfira nas relações internas do governo. Isso vale para todos os partidos políticos", destacou a presidente, durante um café da manhã oferecido aos jornalistas que cobrem o Palácio do Planalto. "Uma coisa é a governabilidade e é importante que os partidos participem, possam indicar nomes. Mas, a partir do momento em que o nome foi indicado, ele presta contas ao governo. Não presta contas a mais ninguém, senão seria muito estranho."
As declarações de Dilma podem gerar ainda mais insatisfações dos parlamentares governistas com o tratamento diferenciado dado pela presidente aos ministros envolvidos em escândalos. Eles alegam que os ministros indicados pelo PT contam com um maior apoio de Dilma durante as crises políticas enfrentadas pelo Executivo. Na sexta-feira, a presidente voltou a defender o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento) e sublinhou que o ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci só deixou o governo porque "quis".
Dilma chegou ao compromisso bem humorada e fez questão de cumprimentar cada um dos repórteres, fotógrafos e cinegrafistas presentes. Demonstrou segurança e firmeza nas respostas. Em alguns momentos, foi irônica. Em outros, chamou seus interlocutores de "minha querida" ou "meu querido", o que costuma indicar que está irritada com as perguntas. A ideia da assessoria de Dilma era que o encontro fosse informal, mas o raro contato direto da presidente com a imprensa acabou transformando o convescote num balanço do primeiro ano de governo e uma entrevista sobre as perspectivas para 2012.
Em relação à reforma ministerial que deve promover em janeiro, a presidente sinalizou que poderá manter todas as atuais 38 Pastas. A declaração faz parte de um cálculo feito pelo núcleo político do governo. Segundo auxiliares de Dilma, a fusão das secretarias de Políticas para Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos ou a extinção de outros ministérios poderiam ter pouco impacto orçamentário e acabar provocando problemas nas relações entre o Executivo e os partidos da base aliada. Com as incertezas geradas pela crise financeira internacional, a presidente quer evitar atritos que lhe rendam surpresas no Parlamento.
Dilma reclamou da preferência da imprensa em divulgar denúncias em vez de dar espaço às realizações de sua gestão, e fez questão de destacar que o "olhar feminino" de seu governo foi determinante para levar adiante algumas das medidas anunciadas neste ano. Como exemplo, citou as ações voltadas à inclusão de portadores de deficiência e combate às drogas. Dilma busca, assim, consolidar a imagem de que é uma presidente zelosa com a saúde, o conforto e a segurança do brasileiro e sua família.
Contrariando as previsões do mercado, ela projetou um 2012 em franca expansão. O Banco Central divulgará sua projeção de crescimento do Produto Interno Bruto do ano que vem no relatório trimestral de inflação que será publicado dia 22. Já especialistas do mercado preveem uma alta de 3,4% do PIB e autoridades do Ministério da Fazenda têm dito que a economia deve crescer pelo menos 4%. Dilma, porém, frisou que sua meta e de toda a equipe econômica é fazer com que a economia brasileira cresça 5% em 2012.
Ela disse acreditar que a atual situação das contas públicas permite que o governo tenha "um bom fôlego" caso tenha que reagir para incentivar alguns setores da economia, sobretudo a indústria. "Temos margem de manobra na política monetária. Eles [os países desenvolvidos] estão praticando juros zero, de 0,5% ou até 1%", acrescentou.
Apesar de o Banco Central trabalhar na coordenação das expectativas do mercado para que a inflação atinja o centro da meta de 4,5%, para a presidente a inflação está sob controle e permanecerá nessas condições mesmo se não atingir o alvo na mosca. "Nós temos certeza que a inflação fica sob controle, fazendo aquela curva suave. Se ela estiver em 5% e o centro da meta é 4,5%, não faz diferença nenhuma, no sentido de que não está descontrolada."