Título: Bancadas desiguais
Autor: Jeronimo, Josie; Ribeiro, Luiz
Fonte: Correio Braziliense, 11/09/2010, Polítca, p. 7

Quantidade de deputadas federais pode aumentar em 2011. Mas há a possibilidade de alguns estados não terem representantes femininas na Câmara

Projeções indicam que a bancada de mulheres na Câmara vai aumentar das atuais 45 parlamentares para 54 no próximo ano, mas a perspectiva de ampliação do número de mulheres eleitas para o Legislativo Federal não é distribuída de forma homogênea em todos os estados. Minas Gerais e Santa Catarina, por exemplo, correm o risco de ficar sem representação feminina em 2011. Apesar de a disputa presidencial deste ano contar com duas candidatas entre os três favoritos, as mulheres ainda encontram dificuldades em captar recursos para as campanhas e se destacar entre os colegas de partido.

Em muitos estados, quando as mulheres alcançam potencial de votos, trocam o Legislativo pelo Executivo e, quase sempre, a vaga é herdada por um homem. Nas bancadas estaduais, o Amapá é o único estado em que mulheres e homens dividem proporcionalmente as cadeiras na Câmara: são quatro deputados e quatro deputadas.

A coordenadora da bancada feminina na Câmara, deputada Janete Pietá (PT-SP), afirma que a candidatura de Dilma Rousseff (PT) à Presidência criou uma onda no eleitorado feminino, mas reclama que as mulheres ainda têm dificuldades para financiar as campanhas, pois os recursos eleitorais ainda são dominados pelos homens. É uma Casa eminentemente masculina, enquanto na sociedade é o contrário. Em São Paulo, somos quatro mulheres em uma bancada de 70, pontua Janete.

O fenômeno Dilma pode causar mudanças na fisionomia da Casa no próximo ano, pois muitas eleitas por voto proporcional se lançaram a cargos majoritários, como é o caso das deputadas Lídice da Mata (PSB-BA) e Angela Amin (PP-SC), e da senadora Ideli Salvatti (PT-SC). Angela e Ideli decidiram disputar o governo de Santa Catarina e podem deixar o estado sem representantes na bancada feminina do Congresso, pois eram as únicas duas mulheres eleitas. Lídice afirma que, no estado, não há perspectiva de aumentar a bancada feminina, mas comemora as chances de ser a primeira senadora eleita pela Bahia. Uma liderança feminina demora a ser feita. A mulher é menos estimulada a entrar na disputa política e tem menos recursos financeiros, analisa.

Apesar de o número de candidatas para a Câmara ter aumentado de 628 postulantes em 2006 para 1.345 neste ano , dirigentes partidários reconhecem que nem todas têm potencial para se eleger. E a vida não é fácil até para as mais conhecidas, como a candidata à reeleição Jô Morais, do PCdoB de Minas Gerais. Esta é a campanha mais difícil que já vivenciei, reclama Jô.

Reserva de vagas A candidata é cotada para garantir uma cadeira na Câmara por Minas Gerais. Caso não tenha bom desempenho, o estado não terá representante feminina na Casa a partir de janeiro. Em 2006, foram eleitas três deputadas federais por Minas Gerais. Maria do Carmo Lara (PT) renunciou depois de se eleger prefeita de Betim, em 2008, e Maria Lúcia Cardoso (PMDB) decidiu disputar vaga na Assembleia.

O presidente estadual do PT, deputado federal Reginaldo Lopes, admite a dificuldade e aponta soluções. Talvez pudesse ser criada reserva de vagas. Não como saída definitiva, mas por um período temporário para facilitar a participação da mulher no processo político, afirma Lopes.

O número 30 de setembro Último dia para a divulgação da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão

Cabo eleitoral do além

Morto em maio de 2007, vítima de leucemia, o ex-deputado federal Enéas Carneiro (PR) continua em campanha.

A imagem dele aparece na TV pedindo votos para Jorge Periquito (PRTB), candidato a deputado federal por Minas Gerais. A propaganda começa com Periquito dizendo que, em Minas,

o saudoso Dr. Enéas escolheu pela mudança e renovação. Em seguida, Enéas aparece. Já abatido pela doença, ele diz: Eu tive uma leucemia e perdi minha barba. Mas com ou sem barba, meu nome é Enéas. E aqui em Minas, Jorge Periquito, uma força jovem, é o meu candidato a deputado federal. A gravação foi feita em 2006, quando Periquito candidatou-se a deputado federal pelo Prona.