Título: Marcha engrenada
Autor: Rockmann ,Roberto
Fonte: Valor Econômico, 19/12/2011, Especial, p. F1

Na região metropolitana de São Paulo, trens de carga disputam espaço com vagões de passageiros para chegar ao Porto de Santos. O compartilhamento dos trilhos impede o uso de contêineres empilhados e faz com que o fluxo de mercadorias seja feito apenas em períodos de menor demanda do transporte público. Esse é um dos pontos que fazem com que apenas 1% dos contêineres chegue ao porto pelo modal ferroviário. Detentor da terceira mais extensa rede rodoviária do mundo, o país tem menos de 15% dela pavimentada. A ineficiência das estradas, que respondem por 60% da movimentação de bens, tem reflexos sobre o agronegócio: o custo do frete rodoviário da soja no Brasil é 3,7 vezes maior que na Argentina e 4,3 vezes maior que nos Estados Unidos, sendo que a perda de grãos por safra é de 6% por conta das más condições das rodovias.

O cenário poderá melhorar nessa década com um conjunto de investimentos dos governos e da iniciativa privada, mas para que esses projetos saiam do papel será preciso superar obstáculos. A Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) aponta que o país precisaria de investimentos de pouco mais de R$ 800 bilhões para melhorar sua infraestrutura em cinco anos. As demandas são de R$ 376 bilhões em petróleo e gás, R$ 141 bilhões em energia elétrica, R$ 120 bilhões em transporte e logística, R$ 98,5 bilhões em telecomunicações e R$ 67,5 bilhões em saneamento.

Em 2010, os recursos chegaram a R$ 146 bilhões, abaixo dos R$ 160 bilhões anuais necessários. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) tem ampliado o investimento público e privado. O PAC 2, prevê investimentos de R$ 955 bilhões. Até setembro, foram executados R$ 143 bilhões, 15% do previsto até 2014. A liberação de recursos do orçamento fiscal da União foi muito mais ágil em 2011: até 11 de novembro, o governo pagou R$ 21,6 bilhões, enquanto em 2010 o total desembolsado chegou a R$ 17,7 bilhões.

"A execução do programa tem melhorado, mas, como a iniciativa privada, o governo enfrenta problemas com licenciamento e questões na Justiça. Um aumento das concessões de saneamento e transportes, poderia contribuir para elevar a velocidade dos investimentos", diz Paulo Godoy, presidente da Abdib. Para o governo, os investimentos serão um dos fatores que poderão levar a economia crescer 5% no próximo ano. "Em 2012 devemos ter uma expansão do investimento público e as obras da Copa devem se acelerar", disse Nelson Barbosa, secretário-executivo do Ministério da Fazenda, em recente balanço sobre o PAC.

O investimento em infraestrutura ainda é baixo em relação ao PIB. Estudo do BNDES aponta que entre 2011 e 2014 o setor pode receber R$ 380 bilhões em recursos. Entre 2006 e 2009, o Brasil investiu 2,1% do PIB em infraestrutura, bem abaixo dos 5% a 7% verificados em países asiáticos. Esse percentual pode subir para 2,5% a 3% do PIB, segundo o estudo com as obras previstas até 2014.

Para o presidente do conselho de administração da Gerdau, Jorge Gerdau, a sustentabilidade do crescimento da economia brasileira requer um aumento da taxa de investimento, hoje em 18% do PIB, sendo que desse total o setor público responde por apenas dois pontos percentuais, com o restante nas mãos das companhias privadas. "Esse é um número muito baixo, mais de 30% aquém do que seria necessário, o Estado precisa investir mais, porque há muitas carências em saúde, educação e logística, enquanto a concorrência com os asiáticos será cada vez maior", afirma Gerdau. Disponibilidade para investir não falta. Um levantamento realizado pela Associação Brasileira de Tecnologia para Equipamentos e Manutenção aponta que, se forem realizadas todas as 12.265 obras anunciadas no país em infraestrutura, indústria e comércio, serão investidos R$ 1,48 trilhão até 2016.