Título: Rodovias melhoram, mas malha é insuficiente
Autor: Simões,Katia
Fonte: Valor Econômico, 19/12/2011, Especial, p. F6

Estudos realizados pelo banco de investimentos americano Morgan Stanley estimam que para atingir os patamares de crescimento de países como a Coreia do Sul e a China, o Brasil precisa investir 4% do Produto Interno Bruto (PIB) em infraestrutura nos próximos dez anos. Só na área de transportes seria necessário aplicar 3,4% do PIB, o que corresponderia a um aporte de R$ 125 bilhões por ano. A realidade, contudo, está distante do que apontam as análises internacionais.

"Em 2010, o Brasil investiu R$ 23,4 bilhões (0,65% do PIB) em infraestrutura na área de transportes. Esse ano, dos R$ 13 bilhões autorizados, apenas R$ 7,5 bilhões foram aplicados", afirma Carlos Campos Neto, um dos responsáveis pela pesquisa Rodovias Brasileiras: Políticas Públicas, Investimentos, Concessões e Tarifas de Pedágio, divulgada em outubro pelo Instituto de Pesquisa Econômica (Ipea). "O que os números nos levam a concluir é que o atual governo não conseguiu deslanchar um programa de investimento em transporte satisfatório, capaz de diminuir os gargalos do setor".

Não há mesmo como negar que 2011 foi um ano difícil, a crise no Ministério dos Transportes acabou por respingar em várias esferas. Até o fim de setembro, a segunda edição do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) concluiu 1% dos valores empreendidos na área de transportes, o equivalente a R$ 1,6 bilhão de um total de R$ 80,2 bilhões. Segundo dados do governo, 86% dos investimentos estão em ritmo adequado, 10% demandam maior atenção e 3% foram classificados como preocupantes. Das 42 licitações iniciadas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), 14 foram revogadas e 27 suspensas.

Campos Neto observa, porém, que embora o volume de dinheiro aplicado seja pequeno diante das necessidades, revela-se maior do que no passado, se levarmos em conta que o país ficou 20 anos sem fazer investimentos no setor, o que levou à degradação das estradas. Segundo levantamento do Ipea, de 2003 a 2010, o investimento público federal em rodovia passou de R$ 1,3 bilhão para R$ 10,3 bilhões, mais 700%. Já os investimentos privados, entre 2002 e 2007, alcançaram uma média de R$ 1,8 bilhão por ano, saltando para R$ 3, 6 bilhões em 2010, por conta das novas concessões realizadas pelo governo federal e pelo Estado de São Paulo, entre 2008 e 2009.

Os resultados se traduzem na melhoria do nível das estradas, conforme pesquisa anual feita pela Confederação Nacional de Transportes (CNT). De 2005 a 2011, o percentual de estradas ruins/péssimas caiu de 40,2% para 26,9%. As ótimas/boas saltaram de 28% para 42,6%, enquanto em estado regular caíram de 31,8% para 30,5%. "Mesmo diante de uma melhora comprovada pelos estudos, a média das estradas brasileiras não deve passar de quatro, em uma escala de zero a dez, simplesmente porque a malha é insuficiente", diz Marcelino Rafart de Seras, presidente da Ecorodovias. Responsável entre outras pela operação do sistema Anchieta-Imigrantes e o corredor Ayrton Senna/Carvalho Pinto, o Grupo registra na pesquisa da CNT 90% de índices entre ótimo e bom, com destaque no ranking entre as melhores estradas do país.

O resultado da Ecorodovias se repete na maioria das 55 concessionárias em operação nas estradas nacionais, sendo que 19 das 20 melhores rodovias do país são concessionadas. O Brasil tem hoje 9% de suas rodovias pavimentadas operadas e mantidas pela iniciativa privada. São 14,8 mil quilômetros de um total de 170 mil. Desde o início das concessões, no final da década de 1990, até outubro desse ano foram executados 3.102 quilômetros de pavimentação nova e recuperados aproximadamente 2,9 milhões de metros quadrados de pontes e viadutos.