Título: Grandes bancos terceirizam empregados
Autor: Maria Christina Carvalho
Fonte: Valor Econômico, 03/07/2006, Finanças, p. C8
Os maiores bancos internacionais pretendem terceirizar de 10% a 15% dos empregados em tempo integral até 2008, informou o diretor gerente da Booz Allen Hamilton, Charles Teschner. A terceirização pode garantir aos bancos economia de 20% a 65% dos gastos com tecnologia da informação, estima Teschner, que participou, semana passada, do Congresso Internacional de Automação Bancária (Ciab), organizado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
Não é por outro motivo que os grandes bancos globais têm planos ousados de terceirização. O grupo financeiro American Express já transferiu 8 mil empregados em tempo integral para a Índia e Filipinas no ano passado. O ABN AMRO passou 1,5 mil funcionários para as empresas com as quais assinou um dos maiores contratos de terceirização do mercado. No próximo ano, o HSBC vai transferir 27 mil empregados em tempo integral para 15 centros globais; e o JP Morgan, 9 mil funcionários.
Nos projetos mais adiantados, o ganho já é visível. O American Express calcula em quase US$ 1 bilhão a melhoria de margem desde 2001. Nos outros casos, há previsões. O CIO internacional do ABN, Lars Gustavsson, também presente no Ciab, afirmou que os benefícios são limitados nos primeiros anos porque o processo de terceirização também envolve despesas.
"Os ganhos começam mais para frente. Nosso plano é para cinco anos", afirmou. O ABN AMRO calcula em US$ 280 milhões o ganho em 2008. O HSBC acredita que vai economizar US$ 1,8 bilhão no próximo ano.
Teschner afirmou que a maioria dos bancos pode reduzir os custos em 20% apenas com uma combinação de otimização interna, consolidação e centralização, sem recorrer ao outsourcing. Pode ganhar mais 20% - "às vezes muito mais" - com a terceirização ou simples transferência de unidades para locais mais baratos, fora das capitais, por exemplo, economizando em aluguel e mão-de-obra mais barata. "Tudo depende se você compara Londres com Chennai, na Índia, ou com Birmingham, na Inglaterra", afirmou.
Finalmente, o ganho de escala obtido com a soma do volume negociado pelo banco com de outras instituições pode resultar em uma economia de 15% ou mais. Se tudo for somado, a economia total pode chegar a 60% dos gastos.
Um novo conceito leva em conta ainda como tirar proveito das diferenças de fuso horário. É o que Teschner chama de "global hub", já utilizado pelo HSBC.
Para o especialista, os bancos brasileiros também precisam avaliar a alternativa, apesar do custo relativamente mais baixo da mão-de-obra em comparação com bancos europeus e norte-americanos.
"Há cinco anos, exceto talvez a segurança, os bancos faziam praticamente tudo em casa, inclusive o cafezinho. Com a perspectiva de continuidade da queda dos juros no Brasil e os ganhos de margem cada vez menores, os bancos precisam estar preparados", afirmou.
O consultor da Ernst & Young, Wilson Gellacic, que também participou do Ciab, afirmou que o outsourcing está em uma terceira onda.
Na primeira, foram terceirizadas atividades mais simples, como processamento de cheques e call center. Na segunda, áreas de tecnologia da informação, processamento de cartões e de apólices de seguros. Na terceira onda, já se terceiriza capital intelectual, para se obter inteligência contábil e atuarial, por exemplo.
O grupo American Express tem nas Filipinas consultores para seguro saúde e avaliadores de risco de crédito, exemplificou Gellacic. Tanto Teschner quanto Gellacic alertam, porém, para problemas.
"O outsourcing não é uma panacéia. Não se pode terceirizar um problema. Seu objetivo é melhorar os custos. Mas não é só isso; deve abrir espaço para a empresa focar nas coisas que realmente importam", disse Teschner. Para Gellacic, as empresas têm que "olhar o que pode dar errado".
"É errado pensar só na economia", concordou o CIO do ABN AMRO, que fechou um dos maiores contratos de terceirização de serviços do mundo, no valor de 1,8 bilhão (US$ 2,2 bilhões), no ano passado. O acordo global foi fechado com cinco empresas de tecnologia da informação: as americanas IBM e Accenture e as indianas Tata Consultancy Services (TSC), Infosys Tecnologies e Patni Computer Sysstems. O acordo é válidos por cinco anos.
As líderes dos grupos de fornecedores de serviços e tecnologia, a TSC e a IBM, já inauguraram centros de desenvolvimento inclusive no Brasil. Toda a infra-estrutura e manutenção de servidores foi transferida para a IBM. O projeto foi iniciado em 15 dos 60 países onde o banco atua - em outras palavras, a infra-estrutura já foi transferida para a IBM em 15 países.
Dez desses 15 países representam 80% dos custos do grupo com tecnologia da informação; os 20% restantes estão espalhados em 50 países. Um desses países é o Brasil, onde o banco possui uma plataforma internacional. O ABN tinha 1,5 mil funcionários na área de tecnologia da informação no país. Foram transferidos cerca de 800 para a TCS e 570 para a IBM.