Título: Moradia popular sustenta expansão
Autor: Demarchi , Celia
Fonte: Valor Econômico, 19/12/2011, Especial, p. A10

Estimulado por seu motor mais potente, o Programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, o setor de habitação deve continuar crescendo nos próximos anos. Dos R$ 209,6 bilhões a serem desembolsados por meio do programa a título de subsídios e financiamentos, R$ 55,6 bilhões foram liberados e a previsão é de alcançar R$ 58,1 bilhões até o fim de dezembro.O ritmo de contratações e desembolsos começou a aumentar a partir do fim de 2009, afirma José Urbano Duarte, vice-presidente de governo da Caixa. Em 2009 as construtoras integrantes do programa absorveram R$ 6,0 bilhões; em 2010, R$ 24,2 bilhões; e este ano R$ 27,8 bilhões. Até 2016, os restantes R$ 134,3 bilhões serão liberados.

Além do financiamento dos bancos públicos, concentrado basicamente na Caixa (R$ 121,09 bilhões), o orçamento inclui subsídios do Orçamento Geral da União (OGU) e do FGTS, respectivamente de R$ 62,8 bilhões e R$ 25,7 bilhões do valor total.

Até o fim de 2011 terá sido contratada a construção de 1.568.843 moradias, das quais 426.529 referem-se à segunda fase, lançada este ano. Entre 2012 e 2014 deverão ser contratadas 1.568.843 habitações.

Com essa dimensão, o Minha Casa, Minha Vida tem sido decisivo para o desempenho do setor. Na Caixa, que concentra mais de 70% do crédito imobiliário do país, representou cerca de metade dos contratos em 2010 - 661 mil, de um total de 1,23 milhão, segundo Duarte.

O valor total dos financiamentos do banco alcançaram R$ 76 bilhões no ano passado e devem subir entre 8% e 10% em 2011, mantendo a curva ascendente dos últimos anos. Em 2003, a Caixa emprestou R$ 5 bilhões, que saltaram para R$ 23 bilhões em 2008 e R$ 47 bilhões em 2009.

Na soma total do mercado, os financiamentos imobiliários alcançaram em torno de R$ 110 bilhões este ano e devem aumentar em 2012, estimulados pelo programa federal, estima Paulo Safady Simão, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). Segundo ele, há muito espaço para a expansão, uma vez que o crédito imobiliário equivale a 5% do PIB nacional. Porcentual só abaixo da participação verificada na Rússia, próximo ao observado na Índia (6%), mas muito inferior ao da China (14%) ou Alemanha (40%).

Em 2011, porém, o governo teria desembolsado bem menos do previsto: R$ 31,6 bilhões, valor que já embutia a subtração de R$ 5 bilhões da fatia de R$ 12,7 bilhões do Orçamento Geral da União, feita no âmbito do corte de R$ 50 bilhões do orçamento federal em fevereiro.

Os recuos não parecem preocupar as construtoras. Pelo menos as grandes. A MRV, está construindo 50.384 unidades para as faixas de renda 2 e 3 do programa (R$ 1,6 mil a R$ 5 mil), o equivalente a 10% do total. Até setembro a empresa havia fechado contratos para erguer 18.808, ou 8% do total contratado pelo programa até aquele mês.

A participação da MRV representa o dobro da fatia do grupo de maiores empresas inscritas no Minha Casa, Minha Vida, segundo o diretor financeiro Leonardo Correa Guimarães. No ano passado a companhia comercializou 37 mil e este ano deve chegar a algo entre 43 mil e 45 mil moradias. De 2000 a 2005, conta Correa, a MRV vendia em torno de 2 mil apartamentos por ano. "Multiplicamos a empresa por 20."

A companhia acredita tanto no potencial desse segmento de mercado, para o qual os subsídios são baixos (chegam no máximo a R$ 23 mil), que concentra nesses negócios aproximadamente 90% de seu capital, de R$ 3,6 bilhões em 30 de setembro. "Tudo somado, temos em torno de R$ 8 bilhões alocados para uso contínuo", diz Guimarães.