Título: Alckmin prometerá recriação da Sudene e mantém-se indefinido sobre transposição
Autor: Raquel Ulhôa
Fonte: Valor Econômico, 27/07/2006, Política, p. A6

Caso seja eleito, o candidato à Presidência, Geraldo Alckmin (PSDB), deverá recriar a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), extinta durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso. A decisão foi tomada ontem durante reunião da coordenação da campanha tucana, da qual participaram o próprio candidato, os senadores Tasso Jereissati (CE), presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PSDB-PE), coordenador da campanha, e Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), além do deputado Roberto Freire (PPS-PE).

A medida é parte do plano para o desenvolvimento da Região Nordeste, que deverá ser divulgado no dia 4 de agosto, no Recife. Na próxima quarta-feira, haverá uma nova reunião para definir os últimos detalhes do plano, considerado por Alckmin como "o mais importante, em razão da disparidade dos indicadores de pobreza em relação ao resto do país". Na região, Alckmin tem cinquenta pontos percentuais a menos que Lula. A Região Norte também será tema de um plano específico.

O grupo ainda não chegou a uma decisão sobre o futuro das obras de transposição das águas do rio São Francisco. Como não há consenso, Roberto Freire defendeu que a decisão seja adiada para depois da eleição, caso Alckmin seja eleito, com a participação dos técnicos da nova Sudene, que será subordinada diretamente à Presidência da República.

Antes do encontro - que durou boa parte da tarde e da noite de ontem - Alckmin responsabilizou o governo federal pelos desvios de recursos do Orçamento para a compra de ambulâncias superfaturadas. O esquema de corrupção, investigado na "Operação Sanguessuga" da Polícia Federal e por uma CPI, envolve mais de cem parlamentares e ex-parlamentares, além de assessores e ex-ministros. "Os deputados são as filiais, mas a matriz é o governo federal. É de lá que sai o dinheiro. Quem libera o dinheiro é que tem o dever de controlar o gasto e punir os responsáveis. É por isso que o Brasil está chegando a 40% de carga tributária e não tem dinheiro para fazer obras " .

A acusação de suposto envolvimento no escândalo de dois ex-ministros da Saúde do governo Lula - Humberto Costa (PT) e Saraiva Felipe (PMDB) - reforçou a exploração do assunto pela campanha de Alckmin. Segundo o presidenciável, a "máfia das sanguessugas" não é um fato isolado na gestão petista.

Alckmin foi cauteloso ao comentar o surgimento do nome do ex-prefeito José Serra (PSDB), candidato a governador de São Paulo, que foi ministro da Saúde do governo Fernando Henrique Cardoso. "Não vi detalhes, de que forma (o nome de Serra) apareceu. Eu acho que precisa ter cuidado com essas coisas. Mas tem que investigar. Acho que esclarecer é bom pra todo mundo".

Segundo integrantes da CPI, o empresário Luiz Antônio Trevisan Vedoin, dono da Planan - apontado como um dos chefes da "máfia das ambulâncias" -, teria dito aos integrantes da comissão que torceu pela vitória de Serra em 2002, porque os pagamentos à Planam na gestão FHC não atrasavam.

Alckmin anunciou que vai "enxugar" os cargos em comissão (ocupados sem concurso público) da administração federal, mas não deu números. Ele disse estar fazendo um levantamento desses cargos no governo Lula para definir os cortes que fará, se eleito, principalmente nas estatais. "Sou parlamentarista. No Parlamentarismo tem uma burocracia estável, muda pouca gente quando muda o governo. Com esse aparelhamento do Estado você perde em eficiência e, depois, termina no que deu: corrupção".

Ontem, Geraldo Alckmin esperava a confirmação de um encontro com o ex-presidente Itamar Franco, hoje, em Belo Horizonte. Articulado pelo governador Aécio Neves (PSDB), a reunião marcaria a adesão de Itamar à campanha do tucano. "O ex-presidente Itamar tem uma marca que está em falta hoje na política brasileira: a honestidade " , disse.