Título: Comparação com FHC deve ser reforçada
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 27/07/2006, Política, p. A7

Na primeira reunião do comitê político de campanha de Luiz Inácio Lula da Silva, realizada na noite de terça-feira no Palácio da Alvorada - que passará a ocorrer sempre às segundas-feiras - avaliou-se como fundamental o discurso comparativo dos quatro anos de Lula com os oito anos de Fernando Henrique Cardoso. Os conselheiros do presidente, um representante de cada partido aliado, formal ou informalmente, estão preocupados em tornar mais objetivo esse discurso, que não está sensibilizando o eleitorado como gostariam.

De acordo com um dos presentes, o ex-ministro Ciro Gomes defendeu na reunião que essa comparação entre os dois governos seja feita para atingir, sobretudo, as camadas médias da população nas diversas regiões. "Não só comparar o nosso governo com o anterior. Mas também apresentar propostas de futuro", resumiu o candidato a deputado pelo PSB, segundo o relato de um dos presentes.

Outra avaliação é de que a campanha precisa esquentar. O vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, que já havia defendido no Valor de ontem que é "preciso preocupar-se com a própria campanha e não apenas com os candidatos adversários", foi mais explícito no Alvorada. "Temos que apostar na mobilização da militância. É primordial resgatarmos esse espírito para levar Lula à vitória". O presidente da Câmara, Aldo Rebelo (SP), ainda tentou minimizar a falta de empolgação da militância, lembrando o atraso no início da corrida eleitoral. "Todas as incertezas provocadas pelas constantes alterações na legislação eleitoral impediram a criação de um ambiente de mobilização no país", reconheceu Aldo.

Ainda que sem uma agenda definida, a intenção é concentrar as viagens de campanha nos fins de semana. "Lula pediu para planejar sempre, durante a semana, uma viagem para alguma região do entorno de Brasília. Algo que lhe permita ir e voltar no mesmo dia", adiantou um político aliado. Todos defenderam também a concentração dos esforços nas regiões Sul e Sudeste, onde Lula tem dificuldades para superar o candidato tucano.

O ex-presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), expôs no encontro uma avaliação da campanha de Lula no Nordeste. Segundo ele, a situação está tranqüila. Mas ficaria melhor se o governo enfatizasse algumas questões, como o reajuste do salário mínimo, os repasses do Bolsa Família e políticas específicas para a região, como a ampliação do número de cisternas.

A capilaridade da campanha passa também pelo apoio dos prefeitos. Esse foi o foco do pronunciamento do ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia. Segundo um dos presentes, o ministro do PTB ressaltou que é fundamental destacar os avanços na relação entre governo federal e municípios, em projetos como a duplicação dos recursos destinados à merenda escolar, por exemplo.

A questão das alianças também ocupou boa parte dos debates. Foi levantada a necessidade de que esse modelo de comitê suprapartidário seja repetido nos Estados. Lula elogiou a experiência de sábado passado, no Recife, quando os dois candidatos ao governo de Pernambuco - Eduardo Campos (PSB) e Humberto Costa (PT) - dividiram o palanque com ele, diante de duas militâncias harmoniosas. "Eu considero isso um grande êxito, uma demonstração de espírito democrático", ressaltou Lula.

Aldo Rebelo alertou para que as alianças sejam feitas em torno do programa de governo, com uma diretriz mínima de ação, sem "prevenções ideológicas". Lula concordou: "Temos que discutir estratégias como uma coalizão. Mesmo as alianças com dispersão (como é o caso do PMDB) têm que manter esse espírito de união, focadas em um grupo de diretrizes definidas pela coordenação de campanha", defendeu o presidente.