Título: Campanha petista prepara ataque a Alckmin
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 27/07/2006, Política, p. A7

Convencidos de que bater antes do tempo era promover o adversário, a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva se prepara para atacar a imagem de bom moço, bom pai de família e gestor eficiente do candidato tucano Geraldo Alckmin. O crescimento de Heloísa Helena (P-SOL) é monitorado com atenção, mas a avaliação é que a senadora não representa risco imediato e que a migração de seus votos, em eventual segundo turno, será majoritariamente para Lula.

A prioridade é a desconstrução da imagem de Alckmin, que cresceu nas pesquisas após a exibição dos programas partidários do PSDB e PFL, entre maio e junho. Conselheiros da campanha afirmam que há farta munição a ser empregada contra o adversário, inclusive em relação à imagem mais cultivada do candidato do PSDB: a de gestor eficiente. No que se refere à segurança pública, por exemplo, já circula até um slogan entre os integrantes da campanha: "Ele parou São Paulo. Agora quer parar o Brasil".

Com slogans como esse, ainda um exercício na campanha presidencial, os petistas procuram demonstrar o poder de que dispõem para causar baixas profundas na campanha adversária, inclusive no campo administrativo: com apenas duas frases, teriam resumido os dias de terror impostos pelo PCC à maior cidade do país e passado subliminarmente a idéia de que a política de segurança de Alckmin em São Paulo poderia causar episódios semelhantes em outras capitais.

A queda de Lula nas pesquisas preocupa, mas não tirou o otimismo do Planalto. Boa parte dessa queda é atribuída, entre conselheiros da campanha, ao programa partidário do PFL na televisão, que rememorou a história do mensalão e situou o presidente como o "chefe da quadrilha". De fato, as últimas pesquisas revelaram que aumentou o número de eleitores que afirmaram se lembrar do escândalo. Até agora, estrategicamente, a campanha evitava o contra-ataque por entender que isso apenas serviria para promover um candidato reconhecidamente desconhecido fora do Estado de São Paulo.

Isso mudou, e agora a campanha de Lula procura algo para "colar" na imagem de Alckmin, a fim de desconstruir a figura do gestor eficiente, bom moço e bom pai de família. Algo que, se já encontrou, é segredo guardado a sete chaves. Por enquanto, o que auxiliares de Lula deixam escapar é que o tucano será identificado como "da turma do FHC", o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Nunca ficou comprovado o envolvimento de Lula com o esquema do mensalão, argumenta-se na campanha à reeleição do presidente, mas contra FHC "será possível mostrar até telefonema gravado".

O governo preferiria enfatizar o debate no campo programático, como acredita ter ocorrido em 2002, quando Lula, em momento crítico da campanha, precisou até escrever a Carta ao Povo Brasileiro, a fim de tranqüilizar os mercados. Nessa linha, a idéia é afirmar que não se confirmou o desastre que se dizia que o governo Lula seria. Pelo contrário, foi um governo mais realizador que o de FHC. Mas a avaliação na campanha é que o programa do PFL deu a senha de qual será o tom da campanha da oposição. E, no campo ético, o que pretende é pelo menos equilibrar os dois pratos da balança.

Ao argumento de que nada disso pode ser relacionado diretamente a Alckmin, estrategistas do presidente respondem que o tucano ainda não passou pela "lama da campanha" e que há muito o que dizer sobre seus dois mandatos no Palácio dos Bandeirantes e os mais de 80 requerimentos de CPI arquivados pela Assembléia Legislativa. No que se refere à gestão, a campanha se prepara para falar em declínio industrial de São Paulo, em seu período de governo, e questionar os feitos do tucano na educação - uma prioridade do candidato Alckmin à Presidência.

Há divergências entre integrantes do conselho de campanha sobre o teto de Heloísa Helena. Alguns acreditam que ela pode chegar a conquistar 15% do eleitorado. Outros, que a senadora do P-SOL tropeçará no próprio discurso e ficará na faixa dos 10%. Seria bobagem acreditar que ela seja capaz de se transformar num fenômeno como Evo Morales, na Bolívia, porque aqui os "cocaleiros" - as camadas mais pobres da população - habitam o território de Lula. A única possibilidade de Heloisa se tornar um fenômeno seria repetir Fernando Collor e conquistar a classe média - o que é avaliado mais que remoto.