Título: Com Copa e Olimpíada, Rio volta a abrir postos de trabalho no setor de turismo
Autor: Santos ,Chico
Fonte: Valor Econômico, 31/10/2011, brasil, p. A2

Após longo período perdendo para o restante do país em segmentos econômicos diretamente relacionados com o turismo, a cidade de maior apelo turístico do Brasil, o Rio de Janeiro, começa a dar sinais de recuperação. Estudo feito pelo economista Mauro Osório, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mostra forte reação do emprego nos serviços de alimentação e alojamento na capital fluminense entre 2009 e 2010, em relação à média do período 2000- 2010.

De acordo com o trabalho de Osório, feito a pedido do Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes da cidade (SindRio), o emprego formal no setor de alimentos (bares e restaurantes) do Rio cresceu 46,6% entre 2000 e 2010. No mesmo período, a média de aumento nas sete capitais do Sul e Sudeste (incluindo o Rio) e em quatro capitais nordestinas (Salvador, Fortaleza, Recife e Natal) alcançou 78,9%. Entre 2009 e 2010, os números já mostram diferença menor entre os dois grupos de cidades: a abertura de postos de trabalho no setor cresceu 7% no Rio, contra 8,9% no conjunto das 11 capitais.

No setor de hotéis e pousadas (alojamento), o fenômeno se repete. De 2000 a 2010, o crescimento do emprego no Rio ficou em 6,9%, contra 13,6% no conjunto das capitais pesquisadas. Quando a análise foi restrita à comparação dos dois últimos anos do período em estudo, Osório, que é reconhecido como o principal estudioso independente da economia da cidade e do Estado, constatou que o Rio praticamente igualou-se à média geral, ampliando o número de vagas em 3,8%, enquanto a média geral ficou em 4%.

"Reestruturação da máquina pública, atração de grandes eventos (Copa de 2014 e Jogos Olímpicos de 2016) e melhoria da segurança pública" são os principais fatores apontados pelo economista, não necessariamente nessa ordem, para a mudança que se observa e que se estende ao conjunto da economia.

De 2000 a 2010, o emprego formal no conjunto das 11 capitais escolhidas para a elaboração do estudo cresceu 47,2%. No Rio de Janeiro, o crescimento foi de 35,5%. Quando o corte é limitado a 2009 e 2010, o crescimento do emprego no Rio foi de 5,3%, contra 5,5% da média geral. A fonte dos dados utilizados por Osório é a Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho.

Para mostrar como a atração de grandes eventos refletiu-se imediatamente no fluxo de turistas para a capital fluminense, embora eles ainda estejam distantes, o pesquisador conta que, segundo o relato do gerente de um dos grandes hotéis da cidade, semanas depois da decisão do Comitê Olímpico Internacional (COI) favorável ao Rio de Janeiro, o fluxo de turistas internos cresceu, passando a rivalizar com o de viajantes internacionais, até então absoluto.

O gosto especial do carioca pela convivência nas ruas e esquinas, de acordo com o economista, estaria sendo reestimulado pela sensação de mais segurança gerada por iniciativas recentes, especialmente a criação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), que já restabeleceram a autoridade pública em 13 comunidades antes dominadas pelo tráfico de drogas.

A prova dessa retomada, segundo ele, é crescimento do número de bares e restaurantes em nível próximo ao das demais capitais que fizeram parte do estudo. De 2000 a 2010, o número de estabelecimentos do setor de alimentação do Rio cresceu apenas 13,8%, aproximadamente um terço do desempenho do conjunto das 11 capitais - alta de 42,7%. Já entre 2009 e 2010, o crescimento do total de estabelecimentos foi de 5,32% no Rio e de 6,96% na média das cidades.

Para Osório, as evidências culturais e econômicas mostram que o caminho que o Rio de Janeiro, capital e Estado, deve seguir para dar perenidade ao bom momento que atravessam é investir em dois complexos econômicos: o da cadeia de petróleo e gás, aí incluindo engenharia de projetos, pesquisas, peças e equipamentos, e o complexo que engloba turismo, entretenimento, esporte e cultura.

Ele ressalta que boa parte das políticas, que resultam na dinamização do turismo, está relacionada com o bem-estar do cidadão carioca a fluminense e propõe a intensificação dos investimentos em saneamento básico, incluindo a despoluição da baía de Guanabara, em segurança pública e em transporte de massa.

Osório propõe ainda intensificar políticas de integração turística entre a capital e o interior do Estado, ressaltando que, apesar do potencial, o turismo fora da capital ainda se concentra em bolsões como os municípios de Armação dos Búzios e Parati. Nas duas cidades, a participação do setor de hotéis e pousadas no total de empregos gerados alcança, respectivamente, 20,8% e 12,5%, contra 0,8% da média do Estado.